The Last Days On Mars (Fansrev) - Parte 2

The Last Days on Mars (Fansrev) - Parte 2

ATENÇÃO: Isto é um fanfiction, escrito para servir como crítica de cinema, e não como roteiro comercial, ou seja, sem fins lucrativos. Sugiro que se veja primeiro o filme, e depois se leia o fanfiction, ou melhor, o fansrev (acrônimo de Fan Screenplay Review, ou Revisão de Roteiro Por Um  Fã) abaixo. _ Wagner RMS.

Leia: Parte 1.

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A missão International Space Committee - ISC - Aurora é um esforço internacional de exploração do Sistema Solar, e é composta por (a) veículo (sonda Aurora) que deveria executar sondagens e pesquisas por toda a área próxima a Marte, incluindo asteróides cruzadores da órbita do planeta vermelho; (b) três equipes de pouso, que deveriam se revesar por cerca de 24 meses, nas construção de bases fixas na superfície de Marte, em suas luas, e, se possível, em um dos asteróides visados, e explorar todos estes alvos. A transcrição de gravação abaixo, editada para sua conveniência, seria a versão final do que aconteceu com a equipe de pouso Aurora 2, em seus últimos dias na superfície de Marte antes de serem recolhidos pela sonda Aurora, conforme descrito por Vicente Campos, Oficial Comandante e Engenheiro de Sistemas da missão. A divulgação total ou parcial deste conteúdo é passível de prisão, multa e confisco de bens.

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GRAVAÇÃO DE RAIO ZULU 7524 CONECTADO, SEGUNDA PARTE DA TRANSMISSÃO.

Brunel olhou em volta, como se estivesse com raiva, e agarrou um extintor de incêndios, mandou que eu o seguisse, e enquanto corria para a eclusa de ar, perguntou se eu sabia como impedir a comporta de abrir. Eu disse que tentaria. Mas era tarde, enquanto corríamos, como Brunel não deu ordem direta, o lerdo do Harrington deve ter levado um momento pra agir e bloquear a porta, então havia alguém já dentro da câmara de compressão quando chegamos a antessala. A luz verde, indicando que quem estava lá fora podia entrar, acendeu e quase no mesmo instante Brunel socou o botão vermelho de lacre daquela comporta. As luzes da câmara se apagaram, acenderam as luzes fracas e vermelhas de emergência, e a comporta travou de ambos os lados. Todos estavam ali agora, eu lembro, menos Harrington, que deve ter ficado respondendo à sonda Aurora. Prendemos a respiração quando Brunel espiou pela pequena janela da câmara de compressão. Ele disse “estão lá, acho que estão agachados e abraçados lá”, premiu o botão do interfone, e disse “quem são vocês?”, mantendo o botão pressionado, para que ninguém precisasse fazer isso do outro lado.

(Silêncio. Vicente aspira ar, com força)

Demorou para que respondessem. E a voz de Marko apenas disse, com calma e frieza, “abram a comporta”. Brunel respondeu que não abriria até que eles se identificassem e dissessem porque estavam ali. Harrington entrou em contato pelo interfone interno da base, dizendo que podia ver a câmara de compressão pelo vídeo interno, e que só havia um visitante dentro da câmara! E o que estava lá dentro, de fato sozinho, pulou em nossa direção, e por uma fração de segundo foi como se alguém agarrasse um cadáver em decomposição e empurrasse a cara dele contra a janela de comporta interna, a pouca luz de emergência vermelha o fez parecer banhado em sangue, foi só um segundo, mas foi horrendo.

Todos corriam, arrancavam os trajes dos suportes, vestindo eles com a pressa do desespero, no meio do vendaval da descompressão. Harrington apareceu na porta da antessala da eclusa de ar, para pegar e vestir seu traje pressurizado, seu rosto estava torcido numa careta de medo, ele ameaçou entrar, as luzes falharam, ouvi um som de rasgar, e eu só vi as pernas do sujeito se batendo, enquanto alguma coisa o arrastava de volta, em direção a um corredor escuro, onde as luzes se apagaram de vez e as luzes de emergência não se acendiam. Irwing gritava, em pânico, enquanto tentava fechar o capacete atrapalhadamente, e ele não teria conseguido se a Kim não tivesse fechado por ele. Ela já estava no traje. Lane também. Brunel gritou para usarmos a passagem pressurizada para a cúpula hidropônica, ele mesmo parou na outra porta que dava acesso à passagem e ficou pondo seu pessoal para passar por ali. As luzes se apagaram, e voltaram a acender, e algo da altura de Dalby estava ali dentro, com a gente, e estava abrindo a comporta que nós lacramos, pressionando de novo o mesmo botão vermelho que Brunel havia premido. A luz voltou a piscar e a coisa veio pra cima da gente! Brunel atirou o extintor que ele carregava contra a coisa. Lembro que corri atrás de Lane porque ela me puxou pela mão, com Irwin atrás de mim. Mas Irwin foi agarrado, gritava pelo rádio dos trajes que tinham agarrado ele, enquanto Kim gritava que estava vendo, algo tava mesmo agarrado em Irwin. Brunel gritou alguma coisa que não lembro. Enquanto ela falava, eu ouvia batidas fortes mas surdas, seguidas, tum, tum, tum! Kim e Brunel espancavam algo com alguma coisa. Me virei, vi por sobre o ombro Irwin levantando e correndo em minha direção com Kim, segurando um outro extintor, e Brunel também armado com algo, vindo por último. Uma forma escura se debatia no chão atrás deles! Na luz vermelha, piscando e vacilando intensamente, aquilo parecia um demônio se debatendo no inferno, mas no último instante, para me apavorar mais ainda, eu vi perfeitamente que era a silhueta de uma pessoa.

As luzes da passagem, alimentadas pelas baterias da Cúpula Hidropônica, não se apagaram. Enquanto corríamos através dela, vimos através das seções transparentes da passagem pressurizada que havia um dos nossos Rover estatelado contra uma das laterais da Base Tantalus. As luzes de toda a base agora decaiam, mergulhando aquela parte do nosso mundo na escuridão de vez.

Foi aí que eu notei que apenas Irwin corria atrás de mim. Parei o cara, que tremia e berrava, bem ali no meio da passagem pressurizada. Gritei com ele, perguntando onde estava Kim e Brunel. Irwin, em total desespero, fora de si, berrava que as coisas agarraram Kim e Brunel, e que ele, Irwin, fugiu, correu, fechou a porta estanque do corredor pressurizado atrás de si, sem olhar pra trás! Eu tive vontade de socar o cara ali mesmo, mas lá atrás, no início do corredor, na escuridão que engoliu o Comandante e Kim, eu ouvi a porta estaque bater. Empurrei Irwin na minha frente, e corri atrás dele, gritei por Lane, que respondeu dizendo que estava na outra ponta, na Cúpula, chamando por nós. Eu disse a ela que pegasse ferramentas, qualquer coisa pra eu conseguir lacrar as comportas de lá. Empurrando Irwin na frente, entrei na Cúpula com Lane me empurrando uma caixa de ferramentas. Peguei um alicate, arranquei o teclado externo enquanto alguma coisa, uma das coisas, vinha correndo pela passagem pressurizada, nas minhas costas. Entrei e bati a comporta, lacrando ela e acionando o mecanismo de lacre, quando ouvi o monstro lá fora bater várias vezes contra a comporta! Foi por um triz.

“Conseguimos…” eu disse, já sem fôlego por causa do meu CO2 de novo. A Cúpula Hidropônica estava escura, com luzes intensas, mas direcionais, vindas de baixo para cima dos tanques onde fazíamos as plantas terrestres crescerem na água retirada das fossas marcianas. Naquela penumbra eu pude ouvir Irwin gemendo, Lane respirando profundamente, minha própria respiração intensa, e, de repente, a voz de Dalby dizendo “parem com a brincadeira”.

(Silêncio. A seguir uma quase inaudível risada rouca e nervosa, muito provavelmente do próprio Vicente)

Só tinha um daqueles troços me seguindo pelo duto pressurizado, foi aí que lembrei. A coisa que foi Dalby, capaz de funcionar na atmosfera rarefeita de Marte, deu a volta por fora, e nos alcançou na hidropônica. A coisa, eu me lembro agora, em retrospecto, não tinha mais o capacete da Dalby, claro, mas ainda usava a touca com o fino microfone grudado nela, e com os auriculares, que permitiam ao monstro falar e nos ouvir pelo rádio do traje, que evidentemente ainda funcionava. Por entre rasgos na touca em farrapos, era possível se ver alguns cachos dos cabelos da nossa Dalby, empapados de sangue e algum tipo de gordura. Cabelos que um dia foram dourados feito trigo.

Quando escutamos a voz de Dalby o terror foi absoluto, eu achei que fosse vomitar quando ouvi aquela coisa falando. A Lane, que havia se agachado, cansada, ficou de pé num pulo, olhos arregalados, trêmula. Irwin começou a choramigar, enroscando-se no chão contra a parede. Eu coloquei mais ar pra dentro e prendi a respiração. Funcionou, fiquei mais lúcido na hora! Fiquei agachado mas pronto para o que viesse, acho.

Nas sombras, logo depois das bandejas iluminadas de cultivo, a criatura aparecia e desaparecia, mergulhando e saindo das trevas. Mal dava para ver seu rosto assustador, mas dava para perceber que a coisa tinha algo metálico, afiado e muito perigoso em uma das mãos descarnadas dela. E nós estávamos encurralados!

Ativa, Lane tentava arrancar qualquer coisa das paredes! Os extintores não estavam ali, retirados pra vistoria, não havia nada ali! Irwin implorava, resmungando "por favor" sem parar.

A coisa veio!

Algumas das bandejas das plantas um pouco mais distantes explodiram, quando aquilo saltou de lá de trás, vindo direto em cima de nós! Ou melhor, de mim, pois fui o primeiro alvo.

Lembrei da caixa de ferramentas, e foi ela que me salvou. A coisa enfincou com tanta força o pedaço de metal que ela usava como faca na caixa, que chegou a furar o plástico industrial e ficou presa lá. Se fosse eu, teria atravessado o traje e meu peito, podendo até partir costelas facilmente.

Usei toda a minha força para levantar e empurrar o troço contra o fundo de novo, para cima das plantas, nem sei que eu queria, só queria, eu acho, bater com ela em alguma coisa. Dei um puxão lateral na caixa de ferramentas, onde a faca ainda estava travada, e fiquei espantado quando consegui arrancar a arma daquela monstro com pele áspera e como que queimada, e com uma versão ensandecida dos olhos claros de Dalby faiscando, só que de um tom opaco, doentio, furioso! Ela reagiu, e com um movimento muito rápido usando as pernas e (eu juro que vi) um dos pés que estava descalço para agarrar onde conseguiu, feito um primata, e se empurrar de volta para cima de mim com tanta força que eu desabei e perdi a caixa, que, um segundo depois estava nas mãos da criatura, descendo violentamente sobre o meu capacete. Ela teria me arrebentado se não fosse Lane. A luz da sala vacilou e as lâmpadas das bandejas hidropônicas pareceram se espalhar para todo lado, com seus fachos claros girando caóticos, e, o mais importante e que aconteceu ao mesmo tempo, algo atingiu o monstro com tanta força que uma parte do crânio do monstro esmigalhou e voou longe, junto com um sangue vermelho-amarelado, purulento e muito escuro, que se derramou pela sala, atingindo Lane, que havia usado uma prateleira da hidropônica para arrebentar a cabeça do monstro, e encharcando Irwin que gritou no rádio tão alto que eu quis que ele tivesse morrido, o filho da puta.

(Silêncio. Um momento depois Vicente repete:)

Filho da puta.

Eu tentava ficar de pé e gritava “como ela entrou? como ela entrou? fecha! fecha!”. E enquanto eu gritava, consegui correr até a comporta da sala de compressão da cúpula hidropônica, ali ao lado, e percebi que por uma tremenda sorte o alicate retirado da caixa de ferramentas ainda estava comigo. Entrei na câmara de compressão, descomprimi por um tempo que pareceu absurdamente longo, e abri a escotilha externa. Se outra coisa daquelas estivesse lá fora esperando, teria me atacado, pois fiz o que fiz num impulso só. Mas não havia monstro nenhum ali fora, e eu destruí o teclado externo da câmara, onde o código de emergência para entrada poderia ser acionado, e voltei a fechar a comporta e lacrar ela. Foi quando um vulto surgiu correndo na tempestade de areia que começava a bater pesado do lado de fora. Imediatamente o vulto começou a esmurrar da comporta externa.

Voltei à sala onde a briga com o que foi Dalby aconteceu, e encontrei Irwin e Lane examinando a criatura morta. Era Dalby mesmo, sem dúvida.

(Silêncio)

O que restou dela.

CONTINUA… Parte 3.

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10 years ago

The Last Days on Mars (Fansrev) - Parte 1

ATENÇÃO: Isto é um fanfiction, escrito para servir como crítica de cinema, e não como roteiro comercial, ou seja, sem fins lucrativos. Sugiro que se veja primeiro o filme, e depois se leia o fanfiction, ou melhor, o fansrev (acrônimo de Fan Screenplay Review, ou Revisão de Roteiro Por Um  Fã) abaixo. _ Wagner RMS.

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A missão International Space Committee - ISC - Aurora é um esforço internacional de exploração do Sistema Solar, e é composta por (a) veículo (sonda Aurora) que deveria executar sondagens e pesquisas por toda a área próxima a Marte, incluindo asteróides cruzadores da órbita do planeta vermelho; (b) três equipes de pouso, que deveriam se revesar por cerca de 24 meses, na construção de bases fixas na superfície de Marte, em suas luas e, se possível, em um dos asteróides visados, e explorar todos estes alvos. A transcrição de gravação abaixo, editada para sua conveniência, seria a versão final do que aconteceu com a equipe de pouso Aurora 2, em seus últimos dias na superfície de Marte antes de serem recolhidos pela sonda Aurora, conforme descrito por Vicente Campos, Oficial Comandante e Engenheiro de Sistemas da missão. A divulgação total ou parcial deste conteúdo é passível de prisão, multa e confisco de bens.

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GRAVAÇÃO DE RAIO ZULU 7524 CONECTADO, INÍCIO DA TRANSMISSÃO.

Eu tenho cerca de quinze a trinta minutos.

(Um pouco de estática enquanto a antena se alinhava)

Vou resumir tudo. E torcer pro Aurora Lander não reentrar antes do fim.

(Silêncio)

Na verdade, eu não sei ao certo... Não sei ao certo por onde começo.

(Silêncio)

Sim, ah, merda, óbvio, ok... Vou morrer aqui, daí, desculpem, mas não dá pra ser muito delicado.

Então… Na verdade, a situação começou bem antes de nós, quando a primeira equipe de solo construiu e habitou a Base Tantalus. Imagino que já tenham entendido do que eu estou falando, Marko Young, o biólogo que desapareceu. Nenhum corpo, nenhum vestígio, os demônios de areia, essas tempestades que riscam Tantalus, elas enterraram os restos do azarado, depois de algum defeito no traje. Quem mandou andar sozinho? Mas o fato de o equipamento de perfuração e análise do cara ter ficado por lá, com o painel solar aberto, e emitindo de vez em quando dados e pings de localização, criou um clima meio sombrio, meio idiota entre nós, e surgiu o papo furado sobre ele ter encontrado algo… Bem, agora eu sei que é bem provável mesmo que o cara tenha encontrado algo. Lembro dele da Terra, nos treinamentos, texano, intragável, mas muito inteligente. Deve ter ido atrás de algo, sozinho. Vai ver para ficar somente para ele a glória da descoberta.

Encontrou e foi encontrado. O que o encontrou teve quase oito meses para, a bem da verdade, digerir e entender o cara. Digerir, espero, no sentido de metáfora.

Eu não posso me prolongar, então lá vai. Existe vida em Marte, e de algum modo ela é especializada em nós, ou é especializada em qualquer outra forma de vida, em estudar elas e sobreviver através delas, ficando especializada em nós por causa do Marko.

Vocês vão entender. Recebemos liberação para estudar a área onde Marko desapareceu, pela primeira vez em meses as tempestades ciclônicas deram um tempo, e alguém no Controle da Missão ficou curioso com a boataria em torno dos demônios de areia, e estava longe deles o suficiente para mandar os buchas de canhão aqui para averiguar.

Eu, Lane e Dalby fomos destacados por Brunel para resgatar o equipamento de Marko. Chegamos lá no Rover dois. Dalby ficou nele, enquanto eu e Lane… Deus, sinto falta de Lane… Eu e Lane subimos as rochas aplainadas e fomos triangulando, por triangulação unitária mesmo, já que mais uma vez os satélites estavam fora do ar, e, por sorte, depois de cerca de uma hora, encontramos os equipamentos do pobre astronauta perdido, estranhamente arrumados numa depressão, havendo lá, inclusive, um tablet que tinha sido meticulosamente desmontado. A noite estava caindo, e foi o pisca-pisca da luz da antena da sonda perfuratriz, na escuridão da fenda, o que nos atraiu e nos levou direto pra lá. O cabo de força serpenteava, para fora da depressão, e o painel solar estava ligado a ele, aberto e fixo no chão com estacas, os redemoinhos de areia só faziam limpar os painéis, sem arrancar, e era por isso que eles funcionaram sem parar. Comentei que aquilo não parecia o trabalho de um biólogo.

(Silêncio)

Estávamos há cerca de meia milha do Rover.

“Alguém está tentando entrar na câmara de compressão”, eu lembro até do tremor na voz dela. A base avisou que ninguém tinha nos seguido. Lane e eu corremos de volta. Dalby começou a entrar em pânico. Eu já estava gritando algo como “calma, Dalby, use o painel, trave a comporta!”, e ela dizendo “Eu travei! Quem é?! É algum tipo de pegadinha, Campos? Parem com isso! Estão me assustando! Eu travei, eu travei a comporta externa, mas quem tá aqui sabe o código de emergência!”, e ela começou a chorar e a gritar pedindo, depois implorando que parássemos com a brincadeira! Houve um barulho de descompressão, e nós, Lane e eu, tentamos correr mais rápido. Eu descobri no voo pra cá pra Marte como sou ruim para oxigenar artificialmente, daí então, correndo e berrando dentro de um traje pressurizado, meu CO2 atingiu o limite rapidamente, Lane continuou, disposta e ágil como sempre, mas eu tive que parar pra recuperar a porra do fôlego. Dalby já não gritava mais. Lane chegou lá primeiro, ela sempre foi a mais esforçada e rápida de nós todos.

(Silêncio)

Nunca mais encontramos Dalby, a nossa Dalby de doces olhos azuis.

(Silêncio. Vicente tosse)

Quanto consegui entrar no Rover, só Lane estava lá, parada.

Então ela apontou para o que ela tava olhando, e lembro que meu estômago revirou. Era o capacete de Dalby.

(Silêncio um pouco mais longo)

Procuramos por várias horas, aquela noite, até as baterias do Rover ficarem perigosamente baixas. Ninguém poderia ter certeza de que outra tempestade de areia não desabaria por ali. Mesmo assim pedimos permissão à Base Tantalus para ficarmos por lá. Estávamos em choque, ainda querendo que Dalby voltasse, de algum modo. Brunel fez bem em nos mandar de volta à base, estávamos nos pondo em perigo, e logo os ciclones de areia começaram a dançar por lá, na verdade em toda a região, seria um risco estúpido dormir no Rover.

A transmissão do Comandante para nós foi mais ou menos assim “quero que voltem antes de terem que esperar pelo sol para recarregar as baterias. Desculpa, gente, mas se não encontraram Dalby até agora, minha prioridade passa a ser a segurança de vocês dois” e mais ou menos aqui, nesta altura, houve interferência e uma voz diferente entrou na transmissão, dizendo algo tipo “tragam Aurora de volta”.

Foi apenas um instante, uma frase, mas gelou o sangue de todo mundo.

Lane brigou comigo, não aceitando, racionalizando aquilo, mas Brunel escutou, e tenho a impressão, pelo silêncio relutante dele, que o Comandante achou a mesma coisa que eu. Era a voz rouca e desleixada do texano que treinou com a gente na Terra. Brunel, depois de um tempo, achou que fosse vazamento da memória do diário de missão gravado. O sotaque interiorano e norte americano quase desaparecido, mas que merda, tenho certeza que era o Marko.

Nos reunimos com Brunel e os outros, na sala comum da Base Tantalus, pouco depois de nós chegarmos lá. Irwin tentou seus psicologismos em nós, Lane e eu. Eu estava muito nervoso, mas louco ainda não. Agora não sei, mas ali, naquele instante, eu tinha certeza que Irwin poderia ir se foder.

Contamos tudo de novo pro Brunel, pois viemos o caminho todo discutindo sobre o que aconteceu, e o Comandante orientou Harrington a solicitar instruções ao Controle da Missão, ou seja, vocês aí na Terra. Mal Harrington se sentou na console de comunicação, ele se virou para o sistema ao lado, aquela outra grande tela com as imagens das câmeras externas, chamando a gente para ver, tinha alguém lá fora, entre as rajadas de areia dava para ver alguém, o contorno muito confuso de um traje pressurizado. Um de nós, não lembro direito, talvez a Kim, que chegou por último à reunião, perguntou se não poderia ser a Dalby. Eu, que costumo ficar na minha, mandei calar a boca, Dalby tava morta. Kim Aldrich, mulher de pavio super curto, tava me dizendo para mandar minha mãe calar a boca, ou algo assim, quando Irwin, que havia chegado perto de Harrington e da tela das câmeras, deu um pulo para trás.

Outra sombra apareceu! Agora havia duas silhuetas lá fora.

Aquilo era insano pra gente! O pessoal da sonda Aurora ainda estava longe. Dalby tava sem oxigênio havia horas, e Marko havia meses. Mas não havia ninguém mais em Marte que pudesse estar lá fora, naquele momento! Ficamos como que paralisados, vendo as sombras bruxuleando, distorcidas pela areia, não nos mexemos mesmo quando essas sombras começaram a vir na nossa direção.

Brunel quebrou o silêncio, mandando Harrington enviar a mensagem para o Controle da Missão na Terra, e que ele entrasse em contato com a sonda Aurora. Neste instante percebi pelo canto de olho que a sonda Aurora estava manobrando para entrar em órbita. Foi a nossa última transmissão para vocês na Terra, antes desta aqui, vocês devem ter recebido uns oito minutos depois que Harrington enviou. Os visitantes levaram uns cinco minutos para chegar à nossa eclusa de ar. Um momento antes deles chegarem, quando Kim percebeu a trajetória e resmungou que eles estavam vindo direto pras eclusas de ar, eu agarrei o Comandante e disse que o que tava lá fora sabia os códigos de emergência, que mesmo que nós lacrássemos a comporta, eles iam conseguir entrar!

CONTINUA… Parte 2.

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9 years ago

Colapso de Função

Mãos de pessoa caindo em buraco profundo tentam se agarrar às paredes do túnel enquanto são engolidas por escuridão.

Tudo tem seus princípios. Ele era um deles. No norte gelado, foi o deus que devolveu, ou quase devolveu, Mjölnir ao dono. No oriente antigo, foi Susanoo, quando travesso. Mas gostava mesmo das Américas ao sul, onde era moleque preto, um só pé de vento, o olhar ora astuto, ora também malévolo. Morreu de rir das gentes de carne quanto soterraram seu misticismo e, huah-hahah, descobriram, hahahah, o colapso de função de onda! A Mãe Escuridão minava de novo pra dentro do mundo deles, em bosques solitários e em cantos escuros nas cidades, e estavam todos voltando com ela. Ele agora catava as gentes em metrôs. Nunca saiu de um túnel, após a luz do vagão piscar, e a pessoa do seu lado não estava mais lá? Huah-hahahahaha 

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Mini conto apresentado no Curso "Escreva Sua História”, de Fabio M. Barreto (www.escrevasuahistoria.com).


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8 years ago

Maratona Literária Desencaixados

Adora ler? 

Então participe do sorteio do livro Mônica, e de muitos outros livros, na Maratona Literária Desencaixados. Acesse o evento no Facebook: 

http://bit.ly/Maratona-Desencaixados 

Conheça muuuita gente legal, um monte de obras nacionais incríveis, e divirta-se!

Bateu curiosidade? Leia um trecho de Mônica aqui no blog:

http://www.wagnerrms.com/monica

Abração,

Wagner RMS


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4 years ago
#Repost @fraternidadedeescritores . 《A Terra Estranha》 . Para Que A Humanidade Abandone Sua Infância,

#Repost @fraternidadedeescritores . 《A Terra Estranha》 . Para que a humanidade abandone sua infância, nestes tempos em que o obscurantismo ameaça nosso futuro, é preciso menos muros e mais pontes que conectem pessoas com pensamentos e vidas distintas em um único sentimento de união. Munido de empatia, você sente o lado da outra pessoa e constrói dali para si o caminho de paz e convivência produtiva. Vejamos: . Nascido em 07/06/1907, em uma família que se gabava de ter participado de todas as guerras dos EUA, desde a independência. Lutou para entrar para a marinha, graduando-se engenheiro. Lotado no porta-aviões USS Lexington, foi um dos 1ºs especialistas em radiocomunicações. Após dois enlaces frustrados, casou-se com Virginia Gerstenfeld, com quem viveu até o fim da vida. Contraiu tuberculose e foi reformado pela marinha. Após muitas tentativas de recolocação profissional, começou a escrever para pagar sua hipoteca. . Foi o 1º autor de ficção científica a sair do gueto das revistas Pulp, abrindo caminho para o gênero ser levado mais a sério. Acreditava que não se pode escrever FC sem base na ciência assim como é impossível escrever um romance histórico sem conhecimentos de história. Criou o termo Ficção Especulativa e o fascinante conceito O Mundo Como Mito, onde a ficção é real. Estende sua influência literária até hoje. Até Mechas nipônicos têm raízes nos trajes blindados das Tropas Estelares do autor. Ele foi uma dos Três Grandes da FC em inglês, ao lado de Clarke e Asimov. . Rejeitava explicitamente o racismo. Criava personagens femininas competentemente técnicas, embora muitas vezes estereotipadas. . Foi acusado de apologia ao militarismo e à guerra, até de fascista ao descrever futuros onde a sociedade funcionaria (bem) sob regimes essencialmente militares. Defendia a liberdade sexual e a eliminação do ciúme sexual, o individualismo e o nudismo. Apoiava testes nucleares norte-americanos, ao passo que era descrito como exemplo de generosidade. . E aí, quantas pontes existem entre você e Robert A. Heinlein? . Algumas obras: Um Estranho em uma Terra Estranha, Tropas Estelares Por Wagner RMS . #fraternidadeescritores #RobertAHeilein #sci-fi #WagnerRMS https://www.instagram.com/p/CLL66ZzjWbc/?igshid=o48ooaxf3vs4


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11 years ago

Algumas pessoas ficam tristes incrivelmente jovens _ disse ele _ Por nenhum motivo, ao que parece, parecem quase nascer assim. Elas se machucam mais fácil, se cansam mais rápido, choram mais prontamente, se lembram por mais tempo e, como eu digo, ficam tristes mais jovens que qualquer outra pessoa no mundo. Sei disso porque sou uma delas. (…) Vou deixar essas duas garrafas aqui (…) Beba com o nariz (…) Leia os rótulos primeiro, é claro (…) 'CRESPÚSCULO VERDE DE PURO AR DE SONHO DO NORTE' (…) Lembre-se: foi engarrafado por um Amigo.

"Licor de Dente-de-Leão" _ Ray Bradbury.


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9 years ago

Confere aqui, novas opiniões sobre Mônica! As primeiras impressões da Srta Kelly, carismática resenhista do Aventuras na Leitura, sobre meu livro Mônica. Críticas são super bem-vindas, mas, cá entre nós, elogios também são! ;-)


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3 years ago
PRIMEIRO SORTEIO DA FRATERNIDADE ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀ PRÊMIOS:

PRIMEIRO SORTEIO DA FRATERNIDADE ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀ PRÊMIOS: ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀ DOIS LIVROS: Saga Krystallo de Raphael Fraemam e Joyland de Stephen King ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀ . SORTEIO VÁLIDO POR UMA SEMANA ATÉ 03/07 . ⚠ REGRAS: ⚠ ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀ Seguir a @fraternidadedeescritores!!! . MARCAR DOIS IGs AMIGOS, mas esses amigos não podem ser fakes, famosos ou inativos. Podem comentar quantas vezes quiser!!! (com indicações diferentes de amigos) . O ganhador será avisado por nós! Além disso, terá que ter o ig liberado no dia do sorteio para a conferência das regras. IGS CRIADOS SOMENTE PARA ESSE SORTEIO, NÃO SERÃO ACEITOS. ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀ O participante que parar de seguir após o sorteio, terá sua conta bloqueada aqui e nos igs participantes, e será impedido de participar de novos sorteios. ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀ !!! SORTEIO SERÁ NO DOMINGO QUE VEM (04/07) E NÃO TEM HORÁRIO. ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀ DICA: Espere um intervalo de 3 a 5 segundos entre cada comentário para não ser bloqueado pelo Instagram. ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀ Se for bloqueado NÃO clique em "relatar problema" , clique em "🆗" e aguarde. ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀ Pronto, você já está concorrendo. ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀ ▪️O prêmio será enviado em até 30 dias. ▪️Não nos responsabilizamos por extravio dos correios.⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀ ▪️Esse sorteio tem caráter recreativo. . BOA SORTE!!! 😃😁❤️❤️ #sorteio #repost de @fraternidadedeescritores https://www.instagram.com/p/CQmGyyvL9tP/?utm_medium=tumblr


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11 years ago

Para estar no futuro, é preciso se ver lá.

Wagner RMS


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5 years ago
Especial Fantasia @amazon Livro 2. _____ #ficçãocientífica #Scifi #WagnerRMS Https://www.instagram.com/p/B90kMo4DFlJ/?igshid=189drm1vaouom

Especial Fantasia @amazon Livro 2. _____ #ficçãocientífica #Scifi #WagnerRMS https://www.instagram.com/p/B90kMo4DFlJ/?igshid=189drm1vaouom


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2 years ago
4 Planets Bigger Than Jupiter, Extrasolar Planetary System (12-Year Time Lapse)

4 planets bigger than Jupiter, Extrasolar planetary system (12-Year Time Lapse)

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