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Publicação compartilhada pela Autora Bárbara Gouvêa / @barbaragouveaescritora em 11 de Jun, 2020 às 4:01 PDT
O prêmio de Melhor Diretor de Ficção Científica, do Asia Web Wards, é um reconhecimento incrível e muito merecido, Mestre Flávio Langoni! Parabéns! Torço para que o mundo reconheça cada vez mais o teu trabalho tão talentoso, e a paixão criativa e o profissionalismo dos Criativos Brasileiros.Você é, sem dúvida, um dos nossos Grandes Representantes. 😃🇧🇷👏🏼👏🏼👏🏼 ... @asiawebawards Best Science Fiction Director award is an incredible and well-deserved recognition, Master Flávio Langoni! Congratulations! I hope the world increasingly recognizes your so talented work, and the creative passion and professionalism of the Brazilian Creatives. You are undoubtedly one of our Great Representatives. 😃🇧🇷👏🏼👏🏼👏🏼 __________ #outrolado #otherside #awa2019 #bestdirector #novafriburgoparaomundo #webserie #scifi #scifibrasil #FlavioLangoni https://www.instagram.com/p/B6XbjiGj79f/?igshid=e02utiidfdbt
This can’t be good!
Eis uma sátira ao apocalipse, um miniconto, contendo uma visão crítica mas bem-humorada sobre um criador e seu antagonista, dialogando uma filosofia chinfrim, sobre o que (eles acham que) importa, acima das cinzas do mundo.
Pior que foi. Aos vinte e um dias, do décimo segundo mês, do ano de dois mil e doze após o suposto nascimento de Cristo (que realmente fez o melhor que pôde)... Ou foi antes? Ou depois? Ah, chá prá lá, o que importa é que esse papo rolou a partir do instante em que o planeta Terra enfrentou uma bela faxina geral...
— ENTÃO VAMU LÁ... AAAAPOCALIPSEEE... NOW! — E após o lampejo final, ELE continuou: — PRONTO. BEM, VOCÊ TINHA RAZÃO, FOI MELHOR MESMO ACABAR COM ESSA NOVELA. O QUE VAMOS EVOLUIR AGORA?
— outros primatas?
— NEM MORTO! E BARATAS É CLICHÊ! EU TAVA PENSANDO EM ALGAS. ALGAS SÃO PACATAS E GENTIS.
— e chaaaaa-atas.
— VAI PRO INFERNO, PALHAÇO.
— BEM, QUE TAL OS ANTÍLOPES?
— ahhhnnnnn, ha ha ha ha...
— CARACA, CARA, TÔ FALANDO SÉRIO!
— ha ha ha ha ha ha!
— DÁ UMA IDÉIA, ENTÃO, Ô GÊNIO ABISSAL!
— quer mesmo saber o que eu acho? e, aliás, sempre achei...
— MANDA.
— deixa assim.
— ASSIM? MAS... MAS TÁ TUDO TÃO... MORTO... QUER DIZER, AINDA TEM UNS MICRÓBIOS, MAS...
— e daí? melhor assim, cara, sem brigas desnecessárias, sem aquelas imbecilidades de dar valor ao que não tem valor em si (tipo, dinheiro, dããã, eu te dou papel e você me dá tempo de sua vida, e nos matamos por isso). se liga, autoconsciência leva à inteligência, certo?
— CERTO.
— e a porcaria da inteligência serve pra quê, caaaara? pra não ser usada?!?!? eles tinham, e olha a bestagem sem tamanho que fizeram! deixa assim, arruma um pouco, põe um marzinho morto ali, uma cordilheirinha lá, faz um feng shui em tudo, sei lá, e deixa assim, mané.
— OLHA O RESPEITO! MAS... CARA, O QUE VAMOS FAZER ENTÃO? NADA?!?
— você não tem saído muito, não é?
— SAIR?
— cara, tem um universo lá fora! acorda, meu bróder, há tanta vida lá fora, e aqui dentrooooo sempre, como uma onda no mar, ha ha ha! ok, sai desse trono agora, vem!
— IR? QUE ISSO, CARA, EU NÃO POSSO, TEM TODA A CRIAÇÃO...
— ela se vira sozinha, rapá, agora o pior já passou. Vem, comigo.
— T-TAMO INDO AONDE?
— dificuldade com ironia e sutilezas emocionais, né? normal em nerds. péstenção, foi só a humanidade que foi pras... passear, meu sensível camarada. ainda tem mais coisas entre o céu e a terra, e nós podemos e vamos lá! vamos lá, na boa, tomar umas...
— BEM. OK. ACHO. E DEPOIS? QUER DIZER, A EXISTÊNCIA NÃO PODE SER SÓ ISSO... TIPO, TOOOMAAR UMAS E OUTRAS, E TAL...
— ao infinito, e além! vamu, caraca, issooooo, véio, um pé depois do outro. você vai se amarrar!!!!
To be continued...?
If you’ve spent much time stargazing, you may have noticed that while most stars look white, some are reddish or bluish. Their colors are more than just pretty – they tell us how hot the stars are. Studying their light in greater detail can tell us even more about what they’re like, including whether they have planets. Two women, Williamina Fleming and Annie Jump Cannon, created the system for classifying stars that we use today, and we’re building on their work to map out the universe.
By splitting starlight into spectra – detailed color patterns that often feature lots of dark lines – using a prism, astronomers can figure out a star’s temperature, how long it will burn, how massive it is, and even how big its habitable zone is. Our Sun’s spectrum looks like this:
Astronomers use spectra to categorize stars. Starting at the hottest and most massive, the star classes are O, B, A, F, G (like our Sun), K, M. Sounds like cosmic alphabet soup! But the letters aren’t just random – they largely stem from the work of two famous female astronomers.
Williamina Fleming, who worked as one of the famous “human computers” at the Harvard College Observatory starting in 1879, came up with a way to classify stars into 17 different types (categorized alphabetically A-Q) based on how strong the dark lines in their spectra were. She eventually classified more than 10,000 stars and discovered hundreds of cosmic objects!
That was back before they knew what caused the dark lines in spectra. Soon astronomers discovered that they’re linked to a star’s temperature. Using this newfound knowledge, Annie Jump Cannon – one of Fleming’s protégés – rearranged and simplified stellar classification to include just seven categories (O, B, A, F, G, K, M), ordered from highest to lowest temperature. She also classified more than 350,000 stars!
Type O stars are both the hottest and most massive in the new classification system. These giants can be a thousand times bigger than the Sun! Their lifespans are also around 1,000 times shorter than our Sun’s. They burn through their fuel so fast that they only live for around 10 million years. That’s part of the reason they only make up a tiny fraction of all the stars in the galaxy – they don’t stick around for very long.
As we move down the list from O to M, stars become progressively smaller, cooler, redder, and more common. Their habitable zones also shrink because the stars aren’t putting out as much energy. The plus side is that the tiniest stars can live for a really long time – around 100 billion years – because they burn through their fuel so slowly.
Astronomers can also learn about exoplanets – worlds that orbit other stars – by studying starlight. When a planet crosses in front of its host star, different kinds of molecules in the planet’s atmosphere absorb certain wavelengths of light.
By spreading the star’s light into a spectrum, astronomers can see which wavelengths have been absorbed to determine the exoplanet atmosphere’s chemical makeup. Our James Webb Space Telescope will use this method to try to find and study atmospheres around Earth-sized exoplanets – something that has never been done before.
Our upcoming Nancy Grace Roman Space Telescope will study the spectra from entire galaxies to build a 3D map of the cosmos. As light travels through our expanding universe, it stretches and its spectral lines shift toward longer, redder wavelengths. The longer light travels before reaching us, the redder it becomes. Roman will be able to see so far back that we could glimpse some of the first stars and galaxies that ever formed.
Learn more about how Roman will study the cosmos in our other posts:
Roman’s Family Portrait of Millions of Galaxies
New Rose-Colored Glasses for Roman
How Gravity Warps Light
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ATENÇÃO: Isto é um fanfiction, escrito para servir como crítica de cinema, e não como roteiro comercial, ou seja, sem fins lucrativos. Sugiro que se veja primeiro o filme, e depois se leia o fanfiction, ou melhor, o fansrev (acrônimo de Fan Screenplay Review, ou Revisão de Roteiro Por Um Fã) abaixo. _ Wagner RMS.
Leia: Parte 1 | Leia: Parte 2.
A missão International Space Committee - ISC - Aurora é um esforço internacional de exploração do Sistema Solar, e é composta por (a) veículo (sonda Aurora) que deveria executar sondagens e pesquisas por toda a área próxima a Marte, incluindo asteróides cruzadores da órbita do planeta vermelho; (b) três equipes de pouso, que deveriam se revesar por cerca de 24 meses, nas construção de bases fixas na superfície de Marte, em suas luas, e, se possível, em um dos asteróides visados, e explorar todos estes alvos. A transcrição de gravação abaixo, editada para sua conveniência, seria a versão final do que aconteceu com a equipe de pouso Aurora 2, em seus últimos dias na superfície de Marte antes de serem recolhidos pela sonda Aurora, conforme descrito por Vicente Campos, Oficial Comandante e Engenheiro de Sistemas da missão. A divulgação total ou parcial deste conteúdo é passível de prisão, multa e confisco de bens.
GRAVAÇÃO DE RAIO ZULU 7524 CONECTADO, TERCEIRA PARTE DA TRANSMISSÃO.
O que restou dela. A pele encanecida, cheia de manchas avermelhadas e muito escuras em alguns pontos, albina e quase descarnada em outros. A prateleira que Lane usou estourou o topo do crânio da coisa, mas o rosto estava quase intacto, e naquela escuridão, mesmo naquela treva toda, com as luzes que restaram espalhadas, e nós trêmulos, só Lane lembrando de pegar sua lanterna, todos vimos os traços de Dalby deformados naquela coisa. De repente Lane me deu um puxão e com a luz de sua lanterna, me mostrou um buraco nos farrapos da manga do traje de Dalby. Dava para ver o braço por baixo, e tinha um buraco na pele também. E…
(Silêncio)
Havia algo embaixo da pele dela. Junto com os músculos, ou eram os próprios músculos, eu não sei, não sou biólogo nem médico. A visão era tenebrosa, e asquerosa.
A princípio eu acho que parecia que as próprias fibras musculares dela estivessem se desfazendo, pois no meio do vermelho purulento, sob a pele de Dalby, por entre os músculos, uns filamentos se contraiam e descontraiam, como se uns fios muito finos dos músculos dela estivessem relaxando e retesando, enquanto o corpo morria.
Então Lane me cutucou de novo e eu vi. O foco da lanterna dela, dissipando as trevas num certo ponto do corpo da criatura, mostrava. Os filamentos se encolheram como se fosse aquilo um movimento final, de algo orgânico morrendo, mas quando essas coisas atingiram certo tamanho, eles tomaram vida e avançaram por dentro de Dalby, como aqueles pequeninos vermes que surgem em cantos sujos, onde se decompõem restos orgânicos. Aquilo estava rastejando sob a pele, sobre os músculos, e parecendo, muitas vezes, brotar das próprias carnes do cadáver. E não parava por aí, os vermezinhos se ligavam uns aos outros, enquanto rastejavam, formando rapidamente uma rede, uma malha que cresceu muito rápido, fechando-se sobre e por dentro daquilo que um dia foi nossa amiga Dalby. Mas, de repente, a coisa despertou!
Numa explosão de raiva ou de algum furioso instinto de sobrevivência, Dalby nos derrubou e se arrastou com uma rapidez tremenda para o canto mais escuro daquele lugar, usando pernas e braços para se mover como uma imensa e pavorosa aranha disforme e enlouquecida. E de lá, da escuridão... Ela falou, com a voz agora mais esganiçada, por causa do que Lane fez com ela, acho, e dizendo novamente “parem de brincar!”. E Lane gritou “Espera!” quando eu e Irwin ameaçamos correr dali como se o diabo estivesse atrás de nós. Agarrei Irwin, que berrava e tentava se levantar e correr, e fiz ele calar e parar junto comigo, ameaçando partir o visor do capacete dele.
“Essa coisa. Precisamos entender ela”, a Lane falou pra gente, “talvez se nós escutássemos, e parássemos de... Correr...”. Lane parecia sem ar, quando se arrastou até nós, e nos fitou com seus olhos muito negros e bonitos. Daí, com sua voz mais firme, Lane nos disse “fiquem calmos”.
Lane então se virou, e falou em direção ao cadáver de Dalby, perguntando o que ela era. Foi um silêncio imenso que veio depois da pergunta, enquanto o canto escuro daquela sala parecia crescer na nossa direção. Depois de muito tempo, um suspiro brotou em nossos ouvidos. E depois “Lane?...”, gaguejou a coisa, imitando com perfeição o timbre de Dalby.
“Dalby! Dalby, querida, é você?”, me lembro que Lane perguntou, ansiosa. “Você ainda está aí, querida?”.
Outro silêncio, seguido de uma espécie de choro contido, bem baixinho. Aquela minha ânsia de vômito reapareceu.
“Dalby?...”, murmurava Lane, e do escuro veio a voz em resposta, dizendo, tristonha, algo feito “Lane, eu tô doente… Marko… Ele me machucou…”. Tenho certeza que ouvi Lane soluçar, chorando. Não era ela, eu sabia, mas... Era como se fosse ela ali, falando de novo com a gente.
“Dalby”, disse a Lane fungando, “O que é isso que está… Que está em vocês?”.
“São lembranças, Lane”.
(Silêncio)
Isso pode ser muito importante para vocês aí na Terra. Prestem atenção no que a coisa disse, vou descrever o melhor que eu puder.
(Silêncio. Ruído não reconhecido)
Foi aquilo mesmo que a Da… Que o que foi Dalby nos disse. “São lembranças, Lane”, numa respota de pronto, rápida, e, depois de um tempo quieta, a coisa completou dizendo “Lembranças de um passado muito antigo”.
“Daqui, de Marte?”.
“Sim, Lane, não são minhas, mas agora são minhas também, essas memórias”.
“Não pode ser Dalby”, eu disse, “o cérebro dela tá arrebentado”.
Ouvimos um gemido e um tossir engasgado. E a coisa continuou a falar, às vezes com a voz firme, às vezes gaguejando, mas falando algo sobre ter entendido, através das memórias que eram também dela agora, que a vida em Marte, eu acho, tinha tido muito pouco tempo para nascer, viver e morrer. Houve tempo em que o planeta continha mares e vegetação, mas, na escala do Sistema Solar, claro, isso não durou muito, e Marte começou a perder água e atmosfera, e mais ou menos numa centena de milhões dos nossos anos, virou o deserto que é hoje. Mas, a Dalby disse, a vida lá era tão feroz e obstinada quanto a vida é na Terra. Evoluindo, se adaptando, enquanto o planeta secava, esses organismos marcianos entraram numa espécie de funil evolutivo, geração após geração, aprendendo a sobreviver com cada vez menos recursos, seguindo por caminhos evolucionários onde era se adaptar depressa ou sumir. Dalby tinha sido bioquímica em vida, então devia saber o que estava dizendo.
(Silêncio)
Porra, eu não sei se falei uma merda ou não. Que merda! Aquilo não podia ser mais a nossa Dalby.
(Silêncio um pouco mais prolongado)
Bem, o fato é que aquela coisa nos contou que essa vida marciana sobrevivia a todo custo, em qualquer condição, adormecendo por muito tempo se preciso, e mudando muito, muito rápido pra se adaptar a qualquer fonte de nutrientes. O monstro falou alguma coisa sobre a forma atual daquela criatura ser uma espécie de rede sem centro, tipo a Internet. Eu senti um medo pavoroso quando o troço parou, silenciou, e depois de um tempo disse “eu... Nós ansiamos desesperadamente por um novo mundo. Mas nunca conseguimos alcançar o espaço. Até agora.”.
Enquanto Irwin bufava, de medo e raiva, Lane estendia a mão. Tentei segurar ela, mas ela se arrastou um pouco para frente, e estendeu a mão para as trevas do fundo da sala, para o que ela achava, claramente, que poderia ser a Dalby.
“Dalby, sou eu, a Lane. Somos amigas…”, ela falou, corajosa ou estupidamente, acho que era coragem. E Lane se arrastou mais um pouco à frente, “nós já vivemos em paz antes… Por favor... E se... E se nós ajudássemos vocês?”.
De repente a coisa uivou, em prantos, dizendo “Antes nós éramos a mesma coisa, Lane! Meu Deus! Meu Deus! Lane! Não há mais tempo! Oportunidades! Não podem ser desperdiçadas! Viver ou morrer! Viver ou...”. Lane não teve tempo de voltar, a coisa saltou sobre ela, se atracou com ela! Desta vez, por alguma razão, talvez por causa daquele negócio de fera acuada, Irwin não fugiu, na verdade avançou até mais rápido que eu, e enquanto eu puxava Lane das garras daquela coisa marciana, Irwin, com um pedaço partido da barra de sustentação das prateleiras das plantas, que eu nem tinha visto que ele carregava, batia com incontrolável fúria no monstro que usava a voz de Dalby. Enquanto recebia os golpes brutais e tentava revidar, a coisa gritava, com a voz da nossa Dalby, berrando “Pare, Irwin, pare! Eu não quero morrer, Irwin! Precisa entender! Eu também não quero desaparecer!”, mas o psicólogo não parava nunca, batia sem parar, batia como se nunca mais fosse parar. Irwin gritava “Morre! Morre! Mooorreeee!”, enquanto Lane murmurava algo, chorando magoada, acho que por não ter acontecido um acordo, não sei.
Usando a barra como lança, Irwin agora furava violentamente a coisa no chão, que já estava quase imóvel, o sangue purulento se espalhando por todo lado. Lane me empurrou e se levantou, segurando o ombro do homem descontrolado, dizendo “Para, Irwin!”, mas o cara acertou ela.
(Silêncio)
O filho da puta acertou Lane. O infeliz filho da puta acertou a garota! Eu sei. Sei que ele não tava normal, mas o cara acertou Lane como se ela fosse mais um monstro vindo por trás dele. Girou a barra que tinha nas mãos e bateu com tanta força em Lane, que ela quase voou para o lado, despencando no chão. Eu não sei como fiz aquilo, não lembro, só sei que derrubei Irwin sobre o monstro esfacelado no chão e arranquei a barra de ferro dele. Acho, honestamente, que eu teria surrado ele também até a morte, se não tivesse ouvido Lane resmungando de dor e mágoa, pedindo aos gritos que parássemos. Corri para ela. Na hora percebi que o traje dela, na altura do braço esquerdo, tinha rasgado, e que aquele braço havia sido quebrado. Irwin chegou por cima de nós, implorando desculpas! Lane dizia que tudo bem, tudo bem. Eu estava agindo quase que por instinto para lacrar o traje de Lane, já nem via Irwin, e, claro, nem me dava conta que estávamos em ambiente pressurizado. Todos nós estávamos muito além dos nossos limites, agindo para sobreviver, pouco racionalmente.
Acho que percebi, sem querer ver, na verdade, o ferimento de Lane. A barra de metal havia rasgado não só o traje dela. Havia cortado sua pele. Limpei o melhor que eu consegui o sangue de Dalby, que escorria por sobre Lane, apliquei desinfetante e o curativo adesivo que todos carregamos em kits nos nossos trajes, e, fechando o rasgão no traje dela com grampos, apliquei os polímeros adesivos e vedantes, que aderiram e lacraram o buraco. Fiz tudo conforme o manual, enquanto evitava olhar para Lane, que, eu sentia, me fitava com os olhos ao mesmo tempo cheios de gratidão, lágrimas e raiva.
Minha cabeça girava, eu tinha raiva de Irwin, e torcia para Lane ficar bem.
Não havia mais para onde irmos. Não havia mais salas na cúpula hidropônica. Só nos restava ficar ali com o cadáver estranhamente fumegante e dilacerado, semiescondido na escuridão, do que havia sido Dalby. Ou irmos para o compartimento estanque, na câmara de compressão. Levei Lane até lá, seguido de Irwin que carregava outro pedaço de barra nas mãos. Eu não tinha fôlego para discutir. Assim que nos trancamos na sala de compressão, Irwin foi dizendo que Lane devia estar infectada por aquele organismo alienígena.
CONTINUA…
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Ver o nome da gente ali, numa indicação para Melhor Roteiro Sci-Fi em um festival Internacional da importância do AWA, ao lado dos geniais Flávio Langoni, Lívia Pinaud e toda a admirável equipe da webserie Outro Lado… é algo tipo: UAU!!! 🤩👏🏼👏🏼👏🏼❗🇧🇷
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Saíram as indicações do ASIA WEB AWARDS e a gente não poderia estar mais feliz 😍❤️🎬🎥. Nossa webserie friburguense “OUTRO LADO” (OTHERSIDE) teve 9 indicações a prêmios, incluindo Melhor Atriz para Catherine Pereira Bon (@cathe.bon) e Melhor Ator para Thiago Mello (@thiago.mello.nf)
É NOVA FRIBURGO PARA O MUNDOOO!! 🌎❤️
We got the nominations for Asia Web Awards yesterday and we couldn’t be happier! 😍❤️🎥🎬 Otherside, made in Nova Friburgo, got 9 nominations including best actress to Carherine Pereira Bon and Best Actor to Thiago Mello!!!
IT’S NOVA FRIBURGO TO THE WORLD!!
Apareceu primeiro no Instagram
Caríssimos leitores, segue a primeira parte de um novo texto. Como faço habitualmente com as histórias aqui publicadas, será uma parte por semana, até o final (este não é um texto de degustação, será publicado na íntegra). Neste conto, um tanto crítico, outro tanto irônico, um cara comum mergulha em um mundo de paranóia, ciência, e conspirações, tentando encontrar a si mesmo dentro de um prisão que ele crê eterna!
Leia a Parte 2 de "Sob o Olhar da Eternidade"
A Xícara
Novamente, novamente e novamente. Todo dia era — quase, havia os quanta — tudo sempre igual. Quando a moça loira (antes havia sido morena, ou um rapaz, ou ainda uma senhora adorável cor de avelã, mas a entrega era sempre a mesma) lhe entregou, escorregando por sobre o balcão, a xícara de porcelana cheia de fumegante e cheiroso café, puro, preto, Milton Steinberg se arrepiou todo, como se fosse a peça de porcelana uma víbora! Então ele olhou em torno, só percebendo naquele instante que estava na cafeteria, a mesma de ontem, de antes de ontem, de todos os dias! Olhou de novo para a xícara, pois logo a superfície do café vibraria, captando, com suas ondulações, a explosão distante, e tudo recomeçaria, de novo e de novo.
— O de sempre, senhor Milton. — Falou a atendente, com seu sorriso claro e sardento, como se o conhecesse há anos, como se fosse ela mesma que lhe entregasse aquela mesma xícara (seria a mesma? Átomo a átomo?) toda manhã.
Sua mão trêmula pegou a xícara por cima, como quem pega um pote de alguma coisa perigosa. Foi neste instante que a jovem atendente viu a pistola na outra mão de Steinberg e foi recuando, dizendo:
— Ai meu Deus, ai meu Deus...
O homem armado arregalou os olhos, fitou a arma em sua outra mão, como se a visse pela primeira vez, embora soubesse claramente como ela tinha ido parar lá. Depois, com um movimento brusco da cabeça, relanceou em volta novamente, esticando a cara para fora da cafeteria, e foi então que ele viu homens uniformizados! Policiais, carcereiros! Encostados em uma viatura, não muito distantes dali, conversando soturnamente. Milton olhou de volta para a atendente, que, acuada, continuava rogando a Deus e a ele por misericórdia. Com um olhar de súplica, Milton apontou a pistola para a jovem, que se encolheu, mas se calou, chorando baixinho. Talvez, pensava o homem, suando e tremendo, mesmo que atirasse nela, ela, no dia seguinte, voltaria, ou talvez a versão idosa dela. Steinberg sentia um nó na garganta, o peito oprimido, talvez tivesse que atirar, o sistema estava ali, em torno dele, novamente, novamente e novamente, cada parte agora eternamente corrupta do sistema impelindo seu dedo no gatilho, talvez para atirar em si mesmo, antes que fosse arrastado e trancado por toda a eternidade em uma cela (onde quer que ficasse, naquele dia eterno, jazeria para sempre). Sem saber o que fazer, ele baixou um pouco o punho armado, percebendo que aquilo era inútil, terrivelmente consciente de que o dia, novamente, novamente e novamente, o levou até aquela xícara, ele chorou, agoniado.
Frente de Onda e Déjà Vu
A vida cotidiana é o veneno que se encarrega de envelhecer e enfim matar as pessoas. Ao menos Milton Steinberg pensava assim, quando, pela terceira vez naquela semana, despertou de mau humor, comeu alguma coisa, se banhou e vestiu, pegou a pasta tiracolo, pendurou no ombro, e saiu para trabalhar, às seis, como de costume. Brasileiro invulgar, não tinha a faculdade comum aos seus compatriotas de rirem no caos, e certamente devia ser julgado extremamente mal por isso, cercado de gente que ria enquanto era tratada como escrava por seus servidores públicos, administradores e pela comunidade economicamente dominante, de um modo geral. Não que Milton não sorrisse. Sorria quando via um azul perfeito no céu, ou algum raro ato de bravura ou bondade na rua. Mas em geral apenas enxergava pessoas fingindo que o que elas estavam fazendo tinha alguma relevância. Não tinha. Filósofo de quinta categoria, Milton sabia que sob o ponto de vista da eternidade, nada era perene, tudo se dissolveria no tempo e no espaço, ninguém seria lembrado por absolutamente nada do que fez, as pessoas mais famosas da mídia ou da história um dia, mesmo que levasse cem mil anos, seriam completamente esquecidas, e nada do que foi feito teria valor em si, a não ser como uma infindável corrente de repetição, nascer, viver, morrer para outros nascerem, viverem e morrerem depois.
Certamente essa linha de raciocínio foi uma das precondições causadoras do que estava por vir. Ela o assaltava vez em quando, especialmente quando seguia para o trabalho na lata de conserva superlotada que as pessoas chamavam de trem, indo de Madureira para o Centro do Rio de Janeiro, e ainda mais especialmente quando seus olhos captavam algo estranhamente fugidio, um dos diversos pequenos eventos repetitivos que preenchem as vidas das pessoas, como por exemplo um lampejo de luz na cúpula de vidro de um templo religioso qualquer, que teimava em fulgir justo nos seus olhos, quando passava por ali de trem.
Naquele dia o evento se repetiu justamente quanto Steinberg matutava sobre sua filosofia barata e desanimadora (ao menos ele pensava assim), sobre o fato incontestável de que um amontoado de gente era enlatada diariamente em um ir e vir de horas, somente para que seus filhos e netos fizessem a mesma coisa, eternamente e indignamente.
Quando o raio de luz o cegou, Milton piscou e imediatamente resmungou e praguejou entre os dentes. Sempre que aquele reflexo, que não dava a mínima para existência do sujeito, lhe cegava, ele pensava que no dia seguinte estaria em outro vagão, e que não se esqueceria de pegar sua condução voltado para o lado contrário de onde vinha o reflexo. E algumas vezes cumpria mesmo o intento, mas em algum momento esquecia, ou fatos como pessoas empesteadas de perfumes, ou com rádios altos, ou mesmo um pedinte que teimava em lhe pedir o dinheiro que não tinha e o encarar de forma rancorosa quando recebia um “não”, todos esses pequenos eventos, comuns, o conduziam, como o dançarino conduz a dançarina, reposicionando-o e girando-o, um pouquinho aqui, outro tanto ali, e zap! O reflexo o pegava de novo, bem nos olhos, o relâmpago cegante! Não acontecendo todos os dias, claro, mas acontecendo muitas vezes ao ano. Como era possível? Haveria algum destino? Não, não conseguia conceber um mundo-prisão onde você só existe nele para compor um quadro já pintado, sem chance de ser outra coisa além daquilo, tão pouco, que era. A bem da verdade Steinberg talvez tivesse mais medo daquela possibilidade do que argumentos razoáveis contra a veracidade dela.
Zap! Imprecações, verborragia murmurada, tinha sido pego novamente, novamente e novamente por aquele flash de luz refletida na cúpula de vidro do templo. E por causa do pedinte, de novo, que por sua vez só entrou no mesmo vagão que ele por conta de ele ter ajudado outra pessoa perdida a achar seu caminho ao parar para dar uma informação e perder seu ônibus das seis e quinze que o levaria até a estação de trem, e, provavelmente ele só teve que parar para dar informação por ter feito um caminho mais longo para se desviar daquela mulher que morava na rua ao lado e que se achava a garota mais bonita do mundo e para o ego da qual ele não queria dar alimento a custa dela perceber que ele a achava mesmo muito bonita, enfim… E foi aqui que o cerne da ideia surgiu… Essas coisas se repetiam, não todos os dias, ele sabia, lia sobre essas coisas, sabia da incerteza quântica e etc, que alguns diziam nada ter haver com o mundo macroscópico em que vivemos, e se restringir ao nível atômico, mas ele duvidava muito disso, as incertezas é que mantinham os dias ligeiramente diferentes uns dos outros, pensava ele. Qualquer dia iria perguntar sobre esta sua teoria ao seu amigo físico, Rubens Castilho Lewroy, o velho Binho Cranião, Lewroy Cabeção, gênio do colégio e que trabalhava agora na Urca, naquele laboratório do governo. Iria sim, perguntar a ele. Um dia.
Desceu do trem, na Central do Brasil, aquele monumento ao fato de que se trabalho dignificasse, aquele lugar naturalmente transpiraria dignidade, e não ruína política e social. Milton evitou uns menores provavelmente embebidos em crack e mal intencionados, driblou um camelô vociferante vendendo guarda-chuvas abertamente e celulares roubados mais discretamente, esquivou-se de motoristas que achavam que, nos sinais de trânsito, os pedestres é que deveriam dar passagem aos carros, e, enfim, descobriu que o ônibus que costumava pegar para o último trecho da viagem já havia partido antes do horário, então ele voltou à Central e, soterrando-se em outro transporte público, caiu no metrô que o esmagou novamente e o regurgitou na estação Carioca, de onde Milton emergiu como quem vê pela primeira vez, depois de décadas de trevas, os raios do Sol. Desanimado, pediu um café na cafeteria da esquina. Dona Glória (estava escrito no crachá dela), a atendente, com sua pele castanha e seu sorriso branco, lhe entregou o café preto e fumegante. O homem sorriu gentilmente para a graciosa senhora, em agradecimento, ajeitou a pasta tiracolo no ombro para poder pegar a xícara, olhou para a xícara, e parou de sorrir.
Sobre a superfície de ébano líquido do café, ondas concêntricas se formaram, mas não no centro da xícara, e sim espalhando-se, da área voltada para Steinberg em direção ao lado oposto, ligeiramente mais distante do peito do homem.
Nada demais, a vibração de um ônibus ou dos trens subterrâneos, se não fosse o fato de que duas outras coisas desconcertantes aconteceram neste mesmo instante: primeiro Milton sentiu sua carne vibrar a partir de suas costas até seu peito, como se o que empurrou a superfície do café tivesse passado por dentro dele próprio; e segundo, Steinberg teve a clara certeza de que tudo aquilo que estava vivendo já havia acontecido antes. Não a sensação vaga de um déjà vu, mas a certeza factual de que tudo estava se repetindo, não a mera e massacrante rotina cotidiana, mas de fato, de verdade, ele estava preso, horrivelmente preso, em um mesmo dia que, com algumas variações, era eternamente o mesmo. Não sabia como sabia daquilo, apenas sabia, como sabia seu próprio nome ou o que era uma xícara.
À volta de Steinberg as pessoas pareciam vagamente incomodadas. Sim, muitas pareciam desconcertadas, ele achava, mas rapidamente voltaram aos seus afazeres. Elas haviam tido um déjà vu, mas Milton havia sido o único, por alguma razão incompreensível para ele, que sabia o fato de aquele ser o único dia que existiria para sempre.
Olhou para trás de si. Ponderou. Sacou o celular para avisar que não iria trabalhar, e logo depois era engolido pelo metrô novamente. Era hora de conversar com o Rubens.
A Navalha de Occam
Milton teve que apelar para o Google Maps, mas finalmente estava de frente para o Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas, na Urca.
— Fala Cabeça. — Disse Milton ao celular, da portaria do prédio até modesto, perto de outras instalações dedicadas à ciência mundo afora. Se comparado aos centros de estudos em física de países desenvolvidos, o tamanho do brasileiro era inversamente proporcional à corrupção que assolava o país verde e amarelo de Steinberg. Ainda assim era um prédio, com direito a portaria e guarda dizendo que você só entra se um dos doutores liberar.
— Milton? Cara, que maneiro! Milton Iceberg, o jogador de Tetris mais frio e calculista do Universo! — Respondeu pelo celular o Mestre em Física Aplicada Rubens Castilho Lewroy. — Cara, você e sua intuição para padrões me fizeram seguir carreira científica, sabia? Como está, cara? Deve fazer um ano que não te vejo, e você raramente aparece no Face.
— Estou aqui em frente ao prédio onde você trabalha, Rubens, e preciso muito falar contigo, agora.
— Que voz é essa, rapaz? Ok, ok, vai pra portaria…
— Tô nela, Cabeça.
— ...Então espera que vou ligar te liberando, e o guarda vai te indicar como chegar na minha sala.
— Fala sério, Iceberg! Só você mesmo para tentar me pregar uma peça no meu trabalho! Um dia eterno que varia por causa dos quanta? Isso é, no mínimo, contraditório!
O Doutor Lewroy havia convidado o amigo para um café. Estavam ambos sentados na sala do físico, um em cada ponta de um sofá que ficava em um canto do cômodo, abaixo de uma janela. Lewroy a havia posto lá para poder ler com a luz do dia. Gostava de ler artigos, teses, textos científicos e quadrinhos naquele velho e confortável sofá de quatro lugares. Automaticamente Castilho foi se sentar onde estava acostumado a ficar, no canto longe da porta de entrada do escritório, e seu amigo ansioso ficou na ponta logo ao lado desta porta.
— Rubens. É sério. — Retrucou Steinberg. — Alguma coisa aconteceu… Acontece, toda a manhã, que faz o dia ser o mesmo!
O físico ficou olhando o amigo por um momento, muito sério. Então riu e disse:
— Prova.
— Eu… Não sei como provar.
— Então, cara, isso é coisa da tua cabeça. Fim.
— Não! — Disse Milton erguendo a mão espalmada. — Eu sei, como sei que esta aqui é minha mão. Eu vim falar contigo justamente para você, que sempre foi o mais genial, me dizer o que é isso.
— Alguma falha cognitiva, Iceberg. — e Rubens escancarou seu sorriso mais carioca — O teu cérebro encasquetou em fixar um circuito neuronal que fica dizendo o tempo todo para você que está no mesmo dia. Algo haver com a parte do teu cérebro que lida com o tempo.
— Faz sentido, mas… — E sem se dar conta, automaticamente, Milton ergueu o braço e abriu a porta ao lado. Uma mulher, jovem, estava parada logo em frente à porta, a mão se recolhendo lentamente, era perceptível que ela ia bater quando a porta se abriu, o que a surpreendeu um pouco.
— Oi, Alice. O pendrive com os cálculos está ali, na mesa. — o físico foi falando para a moça. — Milton, esta é a Doutora Alice Moretti.
— Olá, Doutora. Você vem aqui diariamente pegar cálculos ou coisa assim com esse cara, não é?
A moça, séria, olhou de um homem para o outro, e enfim respondeu:
— Sim. Quem é o senhor?
— Desculpe. Sou Milton Steinberg, amigo de infância do Doutor Rubens. — E, voltando-se para o outro homem, Milton foi dizendo: — Eu sabia. Eu sabia que ela estava na porta, pois eu sei que o dia está se repetindo!
— O quê?
— Ele acha que o Universo está preso num loop temporal, Doutora. Olha, Ice… Steinberg, meu amigo, Alice vem sim pegar diariamente resultados de cálculos comigo, e certamente, cara, você a ouviu, mesmo que no limitar da sua audição, chegando na porta que estava bem ao seu lado...
— Você está afirmando — Disse a moça — Que este cara, do nada, veio aqui falar contigo sobre um looping de tempo, desses de filmes da sessão da tarde na TV?
— Eu vim tentar entender o por que de eu saber, com a mais absoluta certeza, que estou vivendo… Nós todos estamos vivendo um mesmo e único dia, num ciclo sem fim.
— Às vezes as coisas se repetem, mas… — Principiou Alice, no entanto seu colega Rubens foi emendando:
— Ele argumenta que as diferenças são por conta do Princípio da Incerteza. — E, mediante um olhar atônito da mulher, o Doutor Castilho deu de ombros.
— E o senhor é formado em quê? — Quis saber a mulher.
— Tetris. — Brincou Milton, com um sorriso desanimado, e já imaginando que foi perda de tempo ir até ali. Alice, por sua vez, finalmente sorriu, e disse:
— Duvido que jogue melhor que eu. Mas tudo bem, se o senhor tem algum dado que prove sua percepção, vamos achá-lo. Se não, vamos encontrar o argumento lógico que te faça compreender que o problema está em seu cérebro, e não no Universo.
E, com certa graça, rara naqueles dias, a moça se sentou no canto do sofá em que Rubens costumava se sentar. Ambos os homens, claro, haviam se levantado quando ela entrou. E ambos os homens se sentaram logo que ela se sentou, Milton no meio e Rubens na outra ponta.
— Alice?
— Doutor Rubens. — Disse Alice, calmamente, em resposta ao colega. — Seu amigo está, obviamente, angustiado com o que está sentindo. Não temos nenhum compromisso urgente agora. A bem da verdade nem os nossos governantes e empregadores entendem a ciência como algo urgente neste país, então porque não ajudar seu amigo? Muitas vezes quando estamos assim, um simples papo já nos tira do fundo do poço.
— Obrigado, Alice. Posso chamar você de Alice? — Quis saber Steinberg, em um tom educado.
— Sem problemas, Milton. Agora vamos lá, se você não tem formação física, preciso te perguntar se entende os conceitos básicos envolvidos. Você entende?
— Gosto de ler um pouco de tudo, com certeza eu não sei tudo que deveria saber. Mas sei o que sei. Só vamos ter este dia, para sempre. — Respondeu Steinberg, quase soltando um suspiro desalentado no final.
— Obrigada por responder, Milton. Eu fiquei preocupada, sinceramente, que você achasse que era algum tipo de arrogância minha perguntar sobre o que sabe e o que deixa de saber, mas é preciso. Você está familiarizado e compreende o conceito de espaço-tempo?
— Sim. Einstein comprovou matematicamente que é mais produtivo pensar que espaço e tempo são a mesma coisa, e até hoje todos os experimentos indicam que ele deve ter razão. É isso?
— Em linhas gerais, sim. Então você diz que o espaço-tempo está curvo?
— Não tenho como afirmar, mas creio que sim, se espaço e tempo são a mesma coisa, então se o tempo se repete, o espaço tem que se curvar também, em círculo, acho.
— Mas, veja, Milton, você afirma que estamos em looping, ou, nas suas palavras, em um dia que se repete eternamente, daí o espaço-tempo tem que ter agora a forma de um círculo, sim, ou em outros termos, a forma de um toro. Feito um pneu, entende? Me acompanha? Ótimo. Então, com esse espaço-tempo em forma de toro, partimos de um ponto qualquer na superfície desse anel volumoso, e chegamos sempre a este mesmo ponto, podemos rodar pela superfície do anel mil vezes, mas sempre paramos no mesmo instante…
— A xícara! Eu sei, toda a manhã a Glória me passa o café preto, por cima do balcão, e é ali que eu atinjo o ponto em que comecei a rodar pelo anel de espaço-tempo.
Alice e Rubens se entreolham, ele com expressão de quem vê algo cair e se quebrar, ela com o rosto impassível. Milton, então, em um resumo breve, mas sem deixar nada importante de fora (exceção feita à tal garota, sua vizinha, que se achava linda, e que de fato era. Desta, Steinberg não falou nada) sobre seu dia eterno, que, hoje ele notou novamente, começava quando ele era transpassado por uma misteriosa força que gerava ondas no seu café preto.
— Interessante, Milton. — Alice falou, sorrindo mais uma vez. — Mas voltando ao ponto, se estamos presos em um anel de espaço-tempo, dia após dia fazendo as mesmas coisas, com pequenas variações por conta de flutuações quânticas, então no que isso difere de um dia normal em nossa atual cultura baseada em capital e trabalho?
Steinberg ficou olhando desconsoladamente para ela, sem saber, assim de súbito, o que responder. A cientista, então, prosseguiu:
— Pode-se dizer que nós sejamos privilegiados, eu e o Doutor Rubens aqui, pois fazemos algo que gostamos, e possuímos o status de pertencermos a uma elite intelectual. Mas em termos gerais, sofremos tanto quanto outros proletariados, que trabalham por um salário, as mesmas mazelas de nossa cultura, nossos dias são infindáveis repetições onde trocamos o tempo de nossas vidas por salários, para que os donos do dinheiro possam usar este tempo para viverem com a liberdade que não temos.
— Onde está o argumento físico?… — Foi perguntando Rubens, ao que Alice o olhou, séria, e ele se calou, para que ela continuasse:
— A percepção, consciente ou não, de que nossas vidas carecem de uma liberdade que, talvez, desse sentido à nossa existência, é uma fonte de tremendo estresse. Sabemos que enquanto uma elite pode usufruir a vida, o belo, e ter tempo para filosofar e de fato usar a mente, sem amarras, para sondar o mundo, nós temos que estar no trabalho das nove até a hora que a chefia achar conveniente. E, depois de uns anos disso, morremos sem deixar vestígio. Isso, se não for disfarçado com botequins, cerveja, futebol, telenovelas, jogatinas, cigarros ou outros escapes mentais, é de enlouquecer qualquer pessoa insensata o suficiente para ficar pensando sobre isso.
A mulher se inclinou ligeiramente para frente e pousou a mão sobre a de Steinberg, como quem o compreende e deseja confortá-lo.
— É isso que está te esmagando, caro Milton, a ponto de sua mente buscar desesperadamente um saída. Sua tese até tem um certo sentido, mas se há flutuação quântica, então, na prática, — ela se inclinou um pouco mais, olhando Milton bem nos olhos. Não chegava a ser uma cena de beijo, mas Steinberg estava pondo em dúvida se a sua vizinha era mesmo a mulher mais atraente que ele conhecia, quando a Doutora Alice completou: — tanto faz.
Ela ficou encarando o homem por mais um momento, tempo o suficiente para ele perceber linhas sutis em torno dos olhos dela, que denotavam ser a mulher mais madura do que ele pensou, à princípio. Então sua vizinha perdeu, em definitivo, o posto. Ainda assim Steinberg não era do tipo que se deixava abater tão fácil por charme e inteligência, e retrucou:
— Isso não quer dizer que eu não esteja certo.
— Navalha de Occam? Entia non sunt multiplicanda praeter necessitatem. Conhece?
— Sim. — Respondeu, em tom conformado, o homem. — Quer dizer, não, não em latim, mas sei o que é. A explicação para os fenômenos será sempre a mais simples.
— Muito bem. E o que é mais simples? Uma força misteriosa que faz o tempo se comportar exatamente como ele se comporta normalmente, ou sua mente, desgastada pelo estresse urbano e social, lhe pregando peças?
Milton Steinberg não sabia se sentia alívio ou não. Mas depois de trocar mais algumas palavras, inclusive de agradecimento, sem falar em e-mails e perfis em redes sociais, o jogador de Tetris apertou as mãos de ambos os doutores, e foi saindo. Enquanto esperava, solitário, um elevador, matutava sobre tudo aquilo.
Será que Occam estava certo sempre? E será que tanto fazia mesmo a forma como o espaço-tempo se comportava? A luz, indicadora de que o elevador acabara de chegar, se acendeu, mas o elevador desceu sozinho. Milton lembrou de seu raio de luz, que refletia em seus olhos quase diariamente, e pensou em medí-lo, se a intensidade fosse exatamente a mesma, não importando a hora da manhã em que ele o cegava, então, metaforicamente, era como se o elevador estivesse mesmo preso entre o térreo e o segundo andar.
Parou em frente a porta do escritório do Lewroy Cabeção e ergueu a mão para bater, quando percebeu que aquele era o momento padrão em que, nas histórias de cinema, ele ouviria algum segredo dos amigos que ainda estavam ali. Apurou os ouvidos e fez cara de divertido muxoxo ao escutar Rubens cochichando um deboche sobre ele: “flutuações quânticas, veja só o nosso campeão de videogames”.
Mas Steinberg fechou a cara quando ouviu a voz de Alice responder, em inglês e no mesmo tom baixo: “are not quanta, waves propagate in four dimensions, and more”.
Um momento depois a porta era aberta por dentro, por Alice, que saía, muito séria, mas Milton já havia ido embora.
Continua na próxima semana, não perca...
Leia a Parte 2 de "Sob o Olhar da Eternidade"
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Wagner RMS: Que legal poder começar nossas entrevistas com vocês dois! Sou fã, quero autógrafos. Mas, sem mais delongas, ao que interessa: Mestre Flávio, qual é o processo de criação de histórias de vocês?
Flavio Langoni:
Apesar de termos cada um a sua função, o nosso trabalho, na Kilmerson Dreams, se mistura muito. Eu participo bastante da produção com a Livia e ela, do desenvolvimento das histórias comigo. A ideia inicial para uma história costuma vir, para mim, de lugares muito diferentes. Às vezes de uma música que eu escuto e que me traz uma cena que pode ser desenvolvida e virar uma história inteira, de inspirações de infância misturadas com um olhar pro futuro, como foi o caso do Nomade 7 e até de necessidades que nós possamos ter com relação a projeto. Por exemplo: Precisamos de uma história de ação, ou de um romance e por aí vai.
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