O Poder Que As Histórias Contadas Por Um Povo Tem Sobre Seu Próprio Futuro!

O poder que as histórias contadas por um povo tem sobre seu próprio futuro!

Neste caso, assistir Dana Scully em Arquivo-X, uma mulher independente, de ciências, forte, inspirou muitas mulheres a seguir carreiras científicas! Espetacular isso! Espetacular! 

Sei e sinto esse poder que a ficção especulativa tem há décadas, por isso acho que temos que tem mais que comédias e obras sobre as mazelas brasileiras, precisamos urgentemente ter fortes e grandes personagens, místicos, futuristas, atuais, mas sempre inspiradores, que façam por nossa gente o que Miss Scully fez por mulheres no mundo todo. 

Em tempo, obviamente Scully é fonte de inspiração também para Mônica Alencar Deveraux (http://bit.ly/livro-Monica) também, mesmo que eu tenha apimentado mais a profissional federal brasileira, com toques de magia e sensualidade, mas Dana, com sua força, sensibilidade e intelectualidade, contribuíram, certamente.

Sugiro também o excelente texto sobre este mesmo tema: http://www.momentumsaga.com/2015/11/o-efeito-scully.html

Enfim, para estar no futuro, você precisa se imaginar nele, nunca esqueça disso. 

O Efeito Scully

O Efeito Scully

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3 years ago
#Repost @fraternidadedeescritores … Escrever Ficção Científica Tem Que Ter Um Pezinho Legal Na Ciência

#Repost @fraternidadedeescritores … Escrever ficção científica tem que ter um pezinho legal na ciência e ser algo muito divertido de se fazer também!

Mais uma matéria no nosso site da série de três artigos sobre possibilidades científicas de viagens mais rápidas que a luz (MRL) que possam nos levar às estrelas e que sejam úteis se você quer escrever sobre jornadas além do nosso sistema solar.⠀ ⠀ Por Wagner RMS. ⠀ LINK: Aqui

Gostou? Curta, Comente, Salve e Compartilhe! 🙂☀️🙏🏼👍🏼👏🏼👏🏼👏🏼 … #fraternidadedeescritores #ficçãocientífica #escrever #sci-fi #escreverficção #WagnerRMS https://www.instagram.com/p/CPEZE7iDJ7p/?utm_medium=tumblr


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10 years ago

Assim é uma história, e também é a vida: não é o quão longa ela é, mas o quão boa ela é, isso é o que importa.

— Seneca

5 years ago
Story: Missão Cumprida

Story: Missão Cumprida

Google Books: Diferente de outros livros sobre escrita de roteiros, 'Story' é sobre forma, não fórmula. Empregando exemplos de mais de cem filmes, Mckee usa uma filosofia que vai além das rígidas regras para identificar os elementos mais elucidativos que distinguem estórias de qualidade das outras. Começando com definições básicas - O que é um beat? Uma cena? Uma seqüência? O clímax do ato? O clímax do filme? - McKee não apenas desvenda os mistérios da estrutura padrão de três atos, mas também desmistifica estruturas incomuns como as de dois atos, sete atos e oito atos. Expõe as limitações de cada gênero, ressaltando a importância do tema, ambiente e atmosfera, e enfatiza a importância de personagem versus caracterização. Recheado com exemplos de filmes como 'Casablanca' e 'Chinatown', McKee disseca cenas clássicas, guiando-nos passo a passo para revelar não somente como uma cena funciona, mas por que ela funciona. Indo além dos fundamentos da composição para os valores duradouros e conflitos que separam os clássicos do clichê.

Apareceu primeiro no: Instagram


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9 years ago

Confere aqui, novas opiniões sobre Mônica! As primeiras impressões da Srta Kelly, carismática resenhista do Aventuras na Leitura, sobre meu livro Mônica. Críticas são super bem-vindas, mas, cá entre nós, elogios também são! ;-)


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3 years ago
Você, Não Importa A Idade, Mas Que Faz Parte De Uma Nova Geração Que Valoriza Autoras E Autores Nacionais,

Você, não importa a idade, mas que faz parte de uma nova geração que valoriza autoras e autores nacionais, mas que também deseja qualidade e variedade, encontre na Fraternidade de Escritores um lugar que é muito você! . São histórias escritas pra você dentro da sua realidade, expandindo o seu mundo e para leitoras e leitores feito você, que necessitam acreditar que o fantástico acontece aqui. . Reposted from @fraternidadedeescritores . __________ #FraternidadedeEscritores #AutorasNacionais #AutoresNacionais #WagnerRMS #LeiaNacional https://www.instagram.com/p/CWhbuziLyIl/?utm_medium=tumblr


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10 years ago

Na mais absoluta profundidade da dimensão espacial, que aparentemente é plana e sem nenhuma ruptura, ocorrem os mais terríveis frenesis (turbulências) e isso impede uma conciliação amigável entre a Relatividade e a Mecânica Quântica.

Wikipédia


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10 years ago

Sob o Olhar da Eternidade (Parte 1)

Caríssimos leitores, segue a primeira parte de um novo texto. Como faço habitualmente com as histórias aqui publicadas, será uma parte por semana, até o final (este não é um texto de degustação, será publicado na íntegra). Neste conto, um tanto crítico, outro tanto irônico, um cara comum mergulha em um mundo de paranóia, ciência, e conspirações, tentando encontrar a si mesmo dentro de um prisão que ele crê eterna!

Leia a Parte 2 de "Sob o Olhar da Eternidade"

A Xícara

Novamente, novamente e novamente. Todo dia era — quase, havia os quanta — tudo sempre igual. Quando a moça loira (antes havia sido morena, ou um rapaz, ou ainda uma senhora adorável cor de avelã, mas a entrega era sempre a mesma) lhe entregou, escorregando por sobre o balcão, a xícara de porcelana cheia de fumegante e cheiroso café, puro, preto, Milton Steinberg se arrepiou todo, como se fosse a peça de porcelana uma víbora! Então ele olhou em torno, só percebendo naquele instante que estava na cafeteria, a mesma de ontem, de antes de ontem, de todos os dias! Olhou de novo para a xícara, pois logo a superfície do café vibraria, captando, com suas ondulações, a explosão distante, e tudo recomeçaria, de novo e de novo.

— O de sempre, senhor Milton. — Falou a atendente, com seu sorriso claro e sardento, como se o conhecesse há anos, como se fosse ela mesma que lhe entregasse aquela mesma xícara (seria a mesma? Átomo a átomo?) toda manhã.

Sua mão trêmula pegou a xícara por cima, como quem pega um pote de alguma coisa perigosa. Foi neste instante que a jovem atendente viu a pistola na outra mão de Steinberg e foi recuando, dizendo:

— Ai meu Deus, ai meu Deus...

O homem armado arregalou os olhos, fitou a arma em sua outra mão, como se a visse pela primeira vez, embora soubesse claramente como ela tinha ido parar lá. Depois, com um movimento brusco da cabeça, relanceou em volta novamente, esticando a cara para fora da cafeteria, e foi então que ele viu homens uniformizados! Policiais, carcereiros! Encostados em uma viatura, não muito distantes dali, conversando soturnamente. Milton olhou de volta para a atendente, que, acuada, continuava rogando a Deus e a ele por misericórdia. Com um olhar de súplica, Milton apontou a pistola para a jovem, que se encolheu, mas se calou, chorando baixinho. Talvez, pensava o homem, suando e tremendo, mesmo que atirasse nela, ela, no dia seguinte, voltaria, ou talvez a versão idosa dela. Steinberg sentia um nó na garganta, o peito oprimido, talvez tivesse que atirar, o sistema estava ali, em torno dele, novamente, novamente e novamente, cada parte agora eternamente corrupta do sistema impelindo seu dedo no gatilho, talvez para atirar em si mesmo, antes que fosse arrastado e trancado por toda a eternidade em uma cela (onde quer que ficasse, naquele dia eterno, jazeria para sempre). Sem saber o que fazer, ele baixou um pouco o punho armado, percebendo que aquilo era inútil, terrivelmente consciente de que o dia, novamente, novamente e novamente, o levou até aquela xícara, ele chorou, agoniado.

Frente de Onda e Déjà Vu

A vida cotidiana é o veneno que se encarrega de envelhecer e enfim matar as pessoas. Ao menos Milton Steinberg pensava assim, quando, pela terceira vez naquela semana, despertou de mau humor, comeu alguma coisa, se banhou e vestiu, pegou a pasta tiracolo, pendurou no ombro, e saiu para trabalhar, às seis, como de costume. Brasileiro invulgar, não tinha a faculdade comum aos seus compatriotas de rirem no caos, e certamente devia ser julgado extremamente mal por isso, cercado de gente que ria enquanto era tratada como escrava por seus servidores públicos, administradores e pela comunidade economicamente dominante, de um modo geral. Não que Milton não sorrisse. Sorria quando via um azul perfeito no céu, ou algum raro ato de bravura ou bondade na rua. Mas em geral apenas enxergava pessoas fingindo que o que elas estavam fazendo tinha alguma relevância. Não tinha. Filósofo de quinta categoria, Milton sabia que sob o ponto de vista da eternidade, nada era perene, tudo se dissolveria no tempo e no espaço, ninguém seria lembrado por absolutamente nada do que fez, as pessoas mais famosas da mídia ou da história um dia, mesmo que levasse cem mil anos, seriam completamente esquecidas, e nada do que foi feito teria valor em si, a não ser como uma infindável corrente de repetição, nascer, viver, morrer para outros nascerem, viverem e morrerem depois.

Certamente essa linha de raciocínio foi uma das precondições causadoras do que estava por vir. Ela o assaltava vez em quando, especialmente quando seguia para o trabalho na lata de conserva superlotada que as pessoas chamavam de trem, indo de Madureira para o Centro do Rio de Janeiro, e ainda mais especialmente quando seus olhos captavam algo estranhamente fugidio, um dos diversos pequenos eventos repetitivos que preenchem as vidas das pessoas, como por exemplo um lampejo de luz na cúpula de vidro de um templo religioso qualquer, que teimava em fulgir justo nos seus olhos, quando passava por ali de trem.

Naquele dia o evento se repetiu justamente quanto Steinberg matutava sobre sua filosofia barata e desanimadora (ao menos ele pensava assim), sobre o fato incontestável de que um amontoado de gente era enlatada diariamente em um ir e vir de horas, somente para que seus filhos e netos fizessem a mesma coisa, eternamente e indignamente.

Quando o raio de luz o cegou, Milton piscou e imediatamente resmungou e praguejou entre os dentes. Sempre que aquele reflexo, que não dava a mínima para existência do sujeito, lhe cegava, ele pensava que no dia seguinte estaria em outro vagão, e que não se esqueceria de pegar sua condução voltado para o lado contrário de onde vinha o reflexo. E algumas vezes cumpria mesmo o intento, mas em algum momento esquecia, ou fatos como pessoas empesteadas de perfumes, ou com rádios altos, ou mesmo um pedinte que teimava em lhe pedir o dinheiro que não tinha e o encarar de forma rancorosa quando recebia um “não”, todos esses pequenos eventos, comuns, o conduziam, como o dançarino conduz a dançarina, reposicionando-o e girando-o, um pouquinho aqui, outro tanto ali, e zap! O reflexo o pegava de novo, bem nos olhos, o relâmpago cegante! Não acontecendo todos os dias, claro, mas acontecendo muitas vezes ao ano. Como era possível? Haveria algum destino? Não, não conseguia conceber um mundo-prisão onde você só existe nele para compor um quadro já pintado, sem chance de ser outra coisa além daquilo, tão pouco, que era. A bem da verdade Steinberg talvez tivesse mais medo daquela possibilidade do que argumentos razoáveis contra a veracidade dela.

Zap! Imprecações, verborragia murmurada, tinha sido pego novamente, novamente e novamente por aquele flash de luz refletida na cúpula de vidro do templo. E por causa do pedinte, de novo, que por sua vez só entrou no mesmo vagão que ele por conta de ele ter ajudado outra pessoa perdida a achar seu caminho ao parar para dar uma informação e perder seu ônibus das seis  e quinze que o levaria até a estação de trem, e, provavelmente ele só teve que parar para dar informação por ter feito um caminho mais longo para se desviar daquela mulher que morava na rua ao lado e que se achava a garota mais bonita do mundo e para o ego da qual ele não queria dar alimento a custa dela perceber que ele a achava mesmo muito bonita, enfim… E foi aqui que o cerne da ideia surgiu… Essas coisas se repetiam, não todos os dias, ele sabia, lia sobre essas coisas, sabia da incerteza quântica e etc, que alguns diziam nada ter haver com o mundo macroscópico em que vivemos, e se restringir ao nível atômico, mas ele duvidava muito disso, as incertezas é que mantinham os dias ligeiramente diferentes uns dos outros, pensava ele. Qualquer dia iria perguntar sobre esta sua teoria ao seu amigo físico, Rubens Castilho Lewroy, o velho Binho Cranião, Lewroy Cabeção, gênio do colégio e que trabalhava agora na Urca, naquele laboratório do governo. Iria sim, perguntar a ele. Um dia.

Desceu do trem, na Central do Brasil, aquele monumento ao fato de que se trabalho dignificasse, aquele lugar naturalmente transpiraria dignidade, e não ruína política e social. Milton evitou uns menores provavelmente embebidos em crack e mal intencionados, driblou um camelô vociferante vendendo guarda-chuvas abertamente e celulares roubados mais discretamente, esquivou-se de motoristas que achavam que, nos sinais de trânsito, os pedestres é que deveriam dar passagem aos carros, e, enfim, descobriu que o ônibus que costumava pegar para o último trecho da viagem já havia partido antes do horário, então ele voltou à Central e, soterrando-se em outro transporte público, caiu no metrô que o esmagou novamente e o regurgitou na estação Carioca, de onde Milton emergiu como quem vê pela primeira vez, depois de décadas de trevas, os raios do Sol. Desanimado, pediu um café na cafeteria da esquina. Dona Glória (estava escrito no crachá dela), a atendente, com sua pele castanha e seu sorriso branco, lhe entregou o café preto e fumegante. O homem sorriu gentilmente para a graciosa senhora, em agradecimento, ajeitou a pasta tiracolo no ombro para poder pegar a xícara, olhou para a xícara, e parou de sorrir.

Sobre a superfície de ébano líquido do café, ondas concêntricas se formaram, mas não no centro da xícara, e sim espalhando-se, da área voltada para Steinberg em direção ao lado oposto, ligeiramente mais distante do peito do homem.

Nada demais, a vibração de um ônibus ou dos trens subterrâneos, se não fosse o fato de que duas outras coisas desconcertantes aconteceram neste mesmo instante: primeiro Milton sentiu sua carne vibrar a partir de suas costas até seu peito, como se o que empurrou a superfície do café tivesse passado por dentro dele próprio; e segundo, Steinberg teve a clara certeza de que tudo aquilo que estava vivendo já havia acontecido antes. Não a sensação vaga de um déjà vu, mas a certeza factual de que tudo estava se repetindo, não a mera e massacrante rotina cotidiana, mas de fato, de verdade, ele estava preso, horrivelmente preso, em um mesmo dia que, com algumas variações, era eternamente o mesmo. Não sabia como sabia daquilo, apenas sabia, como sabia seu próprio nome ou o que era uma xícara.

À volta de Steinberg as pessoas pareciam vagamente incomodadas. Sim, muitas pareciam desconcertadas, ele achava, mas rapidamente voltaram aos seus afazeres. Elas haviam tido um déjà vu, mas Milton havia sido o único, por alguma razão incompreensível para ele, que sabia o fato de aquele ser o único dia que existiria para sempre.

Olhou para trás de si. Ponderou. Sacou o celular para avisar que não iria trabalhar, e logo depois era engolido pelo metrô novamente. Era hora de conversar com o Rubens.

A Navalha de Occam

Milton teve que apelar para o Google Maps, mas finalmente estava de frente para o Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas, na Urca.

— Fala Cabeça. — Disse Milton ao celular, da portaria do prédio até modesto, perto de outras instalações dedicadas à ciência mundo afora. Se comparado aos centros de estudos em física de países desenvolvidos, o tamanho do brasileiro era inversamente proporcional à corrupção que assolava o país verde e amarelo de Steinberg. Ainda assim era um prédio, com direito a portaria e guarda dizendo que você só entra se um dos doutores liberar.

— Milton? Cara, que maneiro! Milton Iceberg, o jogador de Tetris mais frio e calculista do Universo! — Respondeu pelo celular o Mestre em Física Aplicada Rubens Castilho Lewroy. — Cara, você e sua intuição para padrões me fizeram seguir carreira científica, sabia? Como está, cara? Deve fazer um ano que não te vejo, e você raramente aparece no Face.

— Estou aqui em frente ao prédio onde você trabalha, Rubens, e preciso muito falar contigo, agora.

— Que voz é essa, rapaz? Ok, ok, vai pra portaria…

— Tô nela, Cabeça.

— ...Então espera que vou ligar te liberando, e o guarda vai te indicar como chegar na minha sala.

— Fala sério, Iceberg! Só você mesmo para tentar me pregar uma peça no meu trabalho! Um dia eterno que varia por causa dos quanta? Isso é, no mínimo, contraditório!

O Doutor Lewroy havia convidado o amigo para um café. Estavam ambos sentados na sala do físico, um em cada ponta de um sofá que ficava em um canto do cômodo, abaixo de uma janela. Lewroy a havia posto lá para poder ler com a luz do dia. Gostava de ler artigos, teses, textos científicos e quadrinhos naquele velho e confortável sofá de quatro lugares. Automaticamente Castilho foi se sentar onde estava acostumado a ficar, no canto longe da porta de entrada do escritório, e seu amigo ansioso ficou na ponta logo ao lado desta porta.

— Rubens. É sério. — Retrucou Steinberg. — Alguma coisa aconteceu… Acontece, toda a manhã, que faz o dia ser o mesmo!

O físico ficou olhando o amigo por um momento, muito sério. Então riu e disse:

— Prova.

— Eu… Não sei como provar.

— Então, cara, isso é coisa da tua cabeça. Fim.

— Não! — Disse Milton erguendo a mão espalmada. — Eu sei, como sei que esta aqui é minha mão. Eu vim falar contigo justamente para você, que sempre foi o mais genial, me dizer o que é isso.

— Alguma falha cognitiva, Iceberg. — e Rubens escancarou seu sorriso mais carioca — O teu cérebro encasquetou em fixar um circuito neuronal que fica dizendo o tempo todo para você que está no mesmo dia. Algo haver com a parte do teu cérebro que lida com o tempo.

— Faz sentido, mas… — E sem se dar conta, automaticamente, Milton ergueu o braço e abriu a porta ao lado. Uma mulher, jovem, estava parada logo em frente à porta, a mão se recolhendo lentamente, era perceptível que ela ia bater quando a porta se abriu, o que a surpreendeu um pouco.

— Oi, Alice. O pendrive com os cálculos está ali, na mesa. — o físico foi falando para a moça. — Milton, esta é a Doutora Alice Moretti.

— Olá, Doutora. Você vem aqui diariamente pegar cálculos ou coisa assim com esse cara, não é?

A moça, séria, olhou de um homem para o outro, e enfim respondeu:

— Sim. Quem é o senhor?

— Desculpe. Sou Milton Steinberg, amigo de infância do Doutor Rubens. — E, voltando-se para o outro homem, Milton foi dizendo: — Eu sabia. Eu sabia que ela estava na porta, pois eu sei que o dia está se repetindo!

— O quê?

— Ele acha que o Universo está preso num loop temporal, Doutora. Olha, Ice… Steinberg, meu amigo, Alice vem sim pegar diariamente resultados de cálculos comigo, e certamente, cara, você a ouviu, mesmo que no limitar da sua audição, chegando na porta que estava bem ao seu lado...

— Você está afirmando — Disse a moça — Que este cara, do nada, veio aqui falar contigo sobre um looping de tempo, desses de filmes da sessão da tarde na TV?

— Eu vim tentar entender o por que de eu saber, com a mais absoluta certeza, que estou vivendo… Nós todos estamos vivendo um mesmo e único dia, num ciclo sem fim.

— Às vezes as coisas se repetem, mas… — Principiou Alice, no entanto seu colega Rubens foi emendando:

— Ele argumenta que as diferenças são por conta do Princípio da Incerteza. — E, mediante um olhar atônito da mulher, o Doutor Castilho deu de ombros.

— E o senhor é formado em quê? — Quis saber a mulher.

— Tetris. — Brincou Milton, com um sorriso desanimado, e já imaginando que foi perda de tempo ir até ali. Alice, por sua vez, finalmente sorriu, e disse:

— Duvido que jogue melhor que eu. Mas tudo bem, se o senhor tem algum dado que prove sua percepção, vamos achá-lo. Se não, vamos encontrar o argumento lógico que te faça compreender que o problema está em seu cérebro, e não no Universo.

E, com certa graça, rara naqueles dias, a moça se sentou no canto do sofá em que Rubens costumava se sentar. Ambos os homens, claro, haviam se levantado quando ela entrou. E ambos os homens se sentaram logo que ela se sentou, Milton no meio e Rubens na outra ponta.

— Alice?

— Doutor Rubens. — Disse Alice, calmamente, em resposta ao colega. — Seu amigo está, obviamente, angustiado com o que está sentindo. Não temos nenhum compromisso urgente agora. A bem da verdade nem os nossos governantes e empregadores entendem a ciência como algo urgente neste país, então porque não ajudar seu amigo? Muitas vezes quando estamos assim, um simples papo já nos tira do fundo do poço.

— Obrigado, Alice. Posso chamar você de Alice? — Quis saber Steinberg, em um tom educado.

— Sem problemas, Milton. Agora vamos lá, se você não tem formação física, preciso te perguntar se entende os conceitos básicos envolvidos. Você entende?

— Gosto de ler um pouco de tudo, com certeza eu não sei tudo que deveria saber. Mas sei o que sei. Só vamos ter este dia, para sempre. — Respondeu Steinberg, quase soltando um suspiro desalentado no final.

— Obrigada por responder, Milton. Eu fiquei preocupada, sinceramente, que você achasse que era algum tipo de arrogância minha perguntar sobre o que sabe e o que deixa de saber, mas é preciso. Você está familiarizado e compreende o conceito de espaço-tempo?

— Sim. Einstein comprovou matematicamente que é mais produtivo pensar que espaço e tempo são a mesma coisa, e até hoje todos os experimentos indicam que ele deve ter razão. É isso?

— Em linhas gerais, sim. Então você diz que o espaço-tempo está curvo?

— Não tenho como afirmar, mas creio que sim, se espaço e tempo são a mesma coisa, então se o tempo se repete, o espaço tem que se curvar também, em círculo, acho.

— Mas, veja, Milton, você afirma que estamos em looping, ou, nas suas palavras, em um dia que se repete eternamente, daí o espaço-tempo tem que ter agora a forma de um círculo, sim, ou em outros termos, a forma de um toro. Feito um pneu, entende? Me acompanha? Ótimo. Então, com esse espaço-tempo em forma de toro, partimos de um ponto qualquer na superfície desse anel volumoso, e chegamos sempre a este mesmo ponto, podemos rodar pela superfície do anel mil vezes, mas sempre paramos no mesmo instante…

— A xícara! Eu sei, toda a manhã a Glória me passa o café preto, por cima do balcão, e é ali que eu atinjo o ponto em que comecei a rodar pelo anel de espaço-tempo.

Alice e Rubens se entreolham, ele com expressão de quem vê algo cair e se quebrar, ela com o rosto impassível. Milton, então, em um resumo breve, mas sem deixar nada importante de fora (exceção feita à tal garota, sua vizinha, que se achava linda, e que de fato era. Desta, Steinberg não falou nada) sobre seu dia eterno, que, hoje ele notou novamente, começava quando ele era transpassado por uma misteriosa força que gerava ondas no seu café preto.

— Interessante, Milton. — Alice falou, sorrindo mais uma vez. — Mas voltando ao ponto, se estamos presos em um anel de espaço-tempo, dia após dia fazendo as mesmas coisas, com pequenas variações por conta de flutuações quânticas, então no que isso difere de um dia normal em nossa atual cultura baseada em capital e trabalho?

Steinberg ficou olhando desconsoladamente para ela, sem saber, assim de súbito, o que responder. A cientista, então, prosseguiu:

— Pode-se dizer que nós sejamos privilegiados, eu e o Doutor Rubens aqui, pois fazemos algo que gostamos, e possuímos o status de pertencermos a uma elite intelectual. Mas em termos gerais, sofremos tanto quanto outros proletariados, que trabalham por um salário, as mesmas mazelas de nossa cultura, nossos dias são infindáveis repetições onde trocamos o tempo de nossas vidas por salários, para que os donos do dinheiro possam usar este tempo para viverem com a liberdade que não temos.

— Onde está o argumento físico?… — Foi perguntando Rubens, ao que Alice o olhou, séria, e ele se calou, para que ela continuasse:

— A percepção, consciente ou não, de que nossas vidas carecem de uma liberdade que, talvez, desse sentido à nossa existência, é uma fonte de tremendo estresse. Sabemos que enquanto uma elite pode usufruir a vida, o belo, e ter tempo para filosofar e de fato usar a mente, sem amarras, para sondar o mundo, nós temos que estar no trabalho das nove até a hora que a chefia achar conveniente. E, depois de uns anos disso, morremos sem deixar vestígio. Isso, se não for disfarçado com botequins, cerveja, futebol, telenovelas, jogatinas, cigarros ou outros escapes mentais, é de enlouquecer qualquer pessoa insensata o suficiente para ficar pensando sobre isso.

A mulher se inclinou ligeiramente para frente e pousou a mão sobre a de Steinberg, como quem o compreende e deseja confortá-lo.

— É isso que está te esmagando, caro Milton, a ponto de sua mente buscar desesperadamente um saída. Sua tese até tem um certo sentido, mas se há flutuação quântica, então, na prática, — ela se inclinou um pouco mais, olhando Milton bem nos olhos. Não chegava a ser uma cena de beijo, mas Steinberg estava pondo em dúvida se a sua vizinha era mesmo a mulher mais atraente que ele conhecia, quando a Doutora Alice completou: — tanto faz.

Ela ficou encarando o homem por mais um momento, tempo o suficiente para ele perceber linhas sutis em torno dos olhos dela, que denotavam ser a mulher mais madura do que ele pensou, à princípio. Então sua vizinha perdeu, em definitivo, o posto. Ainda assim Steinberg não era do tipo que se deixava abater tão fácil por charme e inteligência, e retrucou:

— Isso não quer dizer que eu não esteja certo.

— Navalha de Occam? Entia non sunt multiplicanda praeter necessitatem. Conhece?

— Sim. — Respondeu, em tom conformado, o homem. — Quer dizer, não, não em latim, mas sei o que é. A explicação para os fenômenos será sempre a mais simples.

— Muito bem. E o que é mais simples? Uma força misteriosa que faz o tempo se comportar exatamente como ele se comporta normalmente, ou sua mente, desgastada pelo estresse urbano e social, lhe pregando peças?

Milton Steinberg não sabia se sentia alívio ou não. Mas depois de trocar mais algumas palavras, inclusive de agradecimento, sem falar em e-mails e perfis em redes sociais, o jogador de Tetris apertou as mãos de ambos os doutores, e foi saindo. Enquanto esperava, solitário, um elevador, matutava sobre tudo aquilo.

Será que Occam estava certo sempre? E será que tanto fazia mesmo a forma como o espaço-tempo se comportava? A luz, indicadora de que o elevador acabara de chegar, se acendeu, mas o elevador desceu sozinho. Milton lembrou de seu raio de luz, que refletia em seus olhos quase diariamente, e pensou em medí-lo, se a intensidade fosse exatamente a mesma, não importando a hora da manhã em que ele o cegava, então, metaforicamente, era como se o elevador estivesse mesmo preso entre o térreo e o segundo andar.

Parou em frente a porta do escritório do Lewroy Cabeção e ergueu a mão para bater, quando percebeu que aquele era o momento padrão em que, nas histórias de cinema, ele ouviria algum segredo dos amigos que ainda estavam ali. Apurou os ouvidos e fez cara de divertido muxoxo ao escutar Rubens cochichando um deboche sobre ele: “flutuações quânticas, veja só o nosso campeão de videogames”.

Mas Steinberg fechou a cara quando ouviu a voz de Alice responder, em inglês e no mesmo tom baixo: “are not quanta, waves propagate in four dimensions, and more”.

Um momento depois a porta era aberta por dentro, por Alice, que saía, muito séria, mas Milton já havia ido embora.

Continua na próxima semana, não perca...

Leia a Parte 2 de "Sob o Olhar da Eternidade"

Agora é sua vez! Influencie no desenrolar desta história, deixe seu comentário aqui embaixo (onde está escrito "Comente, participe"), dizendo se você acha que Milton é louco, ou está mesmo preso em um mesmo dia:


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5 years ago
Nomade 7 No Prime Vídeo Da Amazon

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Hoje nossa série NOMADE 7 nos trouxe mais alegrias: entramos para o catalogo da Amazon Prime 😍🎬🎥.

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8 years ago

No Futuro, No Fantástico, e No Brasil

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A jogadora quer viver de bola; o cozinheiro, criando pratos; o piloto, voando; a guitarrista, de show em show; o advogado, de causa em causa; e escritores, feito eu, sonham em te vender livros para — nem mais, nem menos — poder pagar as contas e escrever mais, dividindo sonhos e percepções, lágrimas e risadas, contigo.

Se sobrar um pouquinho para comprar livros, ir ao cinema e viajar, tanto melhor, sem dúvida.

Mas, muito mais do que viver do ofício de divertir e emocionar pessoas, sinto que escritoras e escritores têm algo ainda maior e mais importante por fazer. Devemos te fazer aspirar… pois enquanto te embalamos num romance, ou chacoalhamos numa aventura, e te fazemos sonhar com outras vidas possíveis, outros mundos, outras histórias para além das que você conhece, te fazemos almejar por mudanças, por novidades, por coisas extraordinárias que você poderá, de algum modo só seu, tornar reais. É o sonhar que leva à aspiração, que leva à fé, que leva à ação, que leva, enfim, à realização.

Nós, que escrevemos, que contamos histórias, somos a força ignitora deste processo. Temos que ser a chama mais inicial da torrente de labaredas de um foguete chamado “você”, que te conduz rumo ao amanhã, para alcançar todo o teu potencial. E desconfio que essa tarefa de dar início aos sonhos cabe, em especial e com grande responsabilidade, àqueles que escrevem sobre o futuro e o fantástico.

Veja, se um menino norte-americano se tornou engenheiro e criou os celulares que revolucionaram nossas vidas em todo o mundo, por ser convidado a sonhar e a realizar tal feito assistindo ao capitão Kirk usar seu comunicador sem fio, em suas jornadas nas estrelas, então há poder e responsabilidade nisso!

Imagine o nosso Povo brasileiro, tão capaz de se virar e de dar seu jeito, mesmo quando tudo está contra ele, sendo mergulhado em obras nacionais que o coloquem em situações extraordinárias e desafiadoras, muito além daquilo com que nossa gente está habituada.  Imagine livros, séries e filmes nacionais que falem sobre os desafios que ainda estão por vir, ou que excedam a nossa realidade, e sobre brasileiros fazendo coisas incríveis para enfrentar essas adversidades, protagonizando grandes histórias, indo a lugares incríveis, mudando o destino da humanidade. Agora visualize nossos jovens crescendo dentro desta cultura, onde não só os estrangeiros protagonizam a ficção científica e a fantasia.

Percebe?

Quantas menininhas engenheiras nós deixamos de inspirar? Quantos moleques nutricionistas nós permitimos que nunca sonhem em liquidar com a fome no mundo? Nós somos capazes de criar inventos espetaculares, explorar mundos distantes e até universos paralelos! Podemos ser autores de feitos memoráveis! Mas precisamos ser alertados e lembrados disso, até que esteja no nosso DNA.

Mas nós ainda olhamos muito mais para trás, do que para frente no tempo. O passado é inquestionavelmente importante. Sem conhecer nossa história, não podemos evitar cometer erros por vezes seguidas, e, portanto, não podemos avançar. Mas, mesmo com autoras e autores novos se esforçando para mudar isso, nossa sociedade ainda é conduzida, em seu sonhar, por uma esmagadora quantidade de livros, filmes e novelas que nos legam passados e atualidades, geralmente dolorosos e crus, como se nossa mente coletiva e cultural afirmasse, repetidamente, que isso é o que somos, e é tudo que podemos ser. Não!

Sairíamos das cavernas, se só mirássemos o presente e o passado, e jamais pudéssemos sonhar com um futuro sem fome e doenças? O que seria da aviação sem um contador de histórias que nos legasse a fábula de advertência e desafio que é Ícaro? Sem o sonho, não há prosperidade, pois o primeiro é a semente mais essencial da segunda. Portanto precisamos nos imaginar e nos ver lá no futuro, ali no extraordinário, e mais além como protagonistas da superação e da inovação. E podemos fazer isso, capacidade não nos falta, basta crer e apostar. Eu aposto escrevendo e consumindo histórias de brasileiros protagonizando o futuro e o fantástico.

Aposte. Todos ganham.


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6 years ago
Pois Animar é Preciso

Pois Animar é Preciso

Trecho do livro (incrível!) “Manual de Animação” de Richard Williams, considerada obra essencial para a arte da animação.

Conhecemos, eu e Bia, o livro na penúltima Bienal. Comprado mais ou menos na mesma epoca em que iniciei o curso de Toon Boom Harmony, terminado recentemente.

Na medida do possível vamos pondo um frame diante do outro, até chegar lá!

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wagnerrms - Wagner RMS
Wagner RMS

Escritor, Roteirista, Ficção Científica e Fantasia. Comprar Livros

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